VITÓRIA, ES (FOLHAPRESS) - Uma semana após o ataque que deixou quatro mortos e sete feridos em duas escolas de Aracruz, no Espírito Santo, familiares das vítimas compartilham o luto coletivo enquanto os sobreviventes ainda se recuperam e a polícia tenta entender o que motivou o crime e se havia mais pessoas envolvidas.

Eram 9h30 do último dia 25 de novembro quando um adolescente de 16 anos invadiu as escolas Primo Bitti e Centro Educacional Praia de Coqueiral com o objetivo de matar o maior número possível de pessoas, segundo a polícia.

Três professoras foram mortas na primeira escola, onde o adolescente estudou até junho deste ano e a mãe dele deu aula por anos.

Primeira vítima do atirador, Maria da Penha Banhos tinha 48 anos e dava aula de alfabetização. Recentemente, ela havia enchido as paredes da escola com poesias de amor, respeito e esperança em um projeto em conjunto com seus alunos. Deixou três filhos, todos menores de 16 anos.

A colega dela, Cybelle Passos, 45, também morreu na hora. Cybelle dava aula de matemática e era natural de Pernambuco.

A terceira professora morta foi Flávia Amboss. Pesquisadora e antropóloga, ela atuou no Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), onde era militante pela reparação dos danos provocados pelo rompimento da barragem de Mariana.

Na segunda escola atacada, o atirador vitimou Selena Sagrillo Zuccolotto, de apenas 12 anos. A menina estava no sexto ano e tinha recebido recentemente um diploma de reconhecimento pelo seu bom desempenho escolar.

"Jamais verei o que ela seria capaz. A promessa de vida inteira pela frente foi desfeita. Todo um futuro foi interrompido a custo do ódio", escreveu a mãe de Selena, Thais Fanttini Sagrillo, em uma carta.

Das outras sete vítimas feridas pelo atirador, duas seguem internadas em estado grave. Atingida por cinco tiros, a professora Degina Rodolfo de Oliveira Fernandes, 37, ainda está na UTI. Ela ficou em coma induzido por cinco dias, mas teve uma melhora na quinta-feira e interagiu com o marido pela primeira vez por meio de gestos e olhares.

"Ela se emocionou, mas está serena", contou o marido, Leandro Fernandes, após conversar com a esposa e dizer que os filhos ?um bebê de oito meses e um casal de gêmeos de sete anos? estão bem.

Quem também teve uma melhora após o quadro médico ser considerado muito grave uma adolescente de 14 anos. Ela foi atingida na cabeça durante o ataque. Nesta semana, a jovem apresentou melhora e não está mais intubada, condição que ela ficou por cinco dias.

Ela está no mesmo hospital que um colega de escola de 11 anos. O menino também segue melhorando e já foi liberado para fazer pequenas caminhadas no hospital.

Já a professora de história Sandra Guimarães, 58, passou por uma cirurgia após levar sete tiros na perna e recebeu alta nesta sexta-feira. Uma outra docente, de 51, segue internada, em estado estável e na enfermaria.

Outras duas professoras já haviam tido alta durante a semana: Priscila Queiroz, 40, que levou três tiros, e Barbara Melodia, 37, atingida por dois disparos.

INVESTIGAÇÃO

A Polícia Civil vai entregar até a próxima terça-feira (6) o inquérito policial do ataque. Mas os investigadores ainda querem saber, por exemplo, como o adolescente se planejou para o crime e se teve ajuda de outras pessoas durante sua preparação.

"Podemos praticamente afirmar que ele agiu sozinho no dia do ataque. O que vamos apurar a partir da próxima semana é o planejamento dele durante os últimos anos", afirmou o secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Espírito Santo, Marcio Celante.

O secretário contou que os pais do atirador já foram ouvidos e que as declarações estavam recheadas de informações que serão usadas pela inteligência da polícia para a investigação.

O inquérito será enviado na próxima semana para que a Vara da Infância e da Juventude de Aracruz julgue o caso. O adolescente será julgado em 46 dias, já que a lei brasileira estabelece esse prazo para o julgamento de menores de idade.

O adolescente de 16 anos vai responder por ato infracional análogo aos crimes de 9 tentativas de homicídio qualificada por motivo fútil e quatro homicídios qualificados por motivo fútil, que gerou perigo comum e com impossibilidade de defesa das vítimas. Ele foi encaminhado ao Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), em Cariacica, na Grande Vitória.

As escolas que foram alvos dos ataques devem concluir o ano letivo de forma remota, segundo o secretário de Educação do Espírito Santo, Vitor de Angelo. O estado criou um plano de ações para planejar atitudes a serem tomadas no apoio às vítimas.

De acordo com o secretário, a prioridade no momento não é o retorno das aulas, e sim o cuidado com as vítimas diretas e indiretas do ataque.

A escola, no entanto, está sem professores. "Três foram mortos, outras professoras estão internadas, vários baleados, e profissionais sem condições psicológicas para voltar ao trabalho", afirmou Vitor de Angelo.

Nesta semana, 11 psicólogos chegaram ao município para atender as vítimas e familiares, segundo a Secretaria de Saúde do Espírito Santo.


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