SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Corregedoria da Polícia Civil vai instaurar um procedimento administrativo para apurar a conduta da delegada Maria Corsato em uma das investigações envolvem o empresário Thiago Brennand, 42.

Brennand ficou conhecido em setembro após agredir a modelo Alliny Helena Gomes, 37, durante discussão em uma academia na zona oeste de São Paulo. Desde então, ao menos 15 mulheres o acusaram de supostos crimes sexuais. Em vídeos, ele nega as acusações.

Após a repercussão, o empresário viajou para Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, onde foi preso em 13 de outubro e solto após pagar fiança. Ele responde a processo de extradição em liberdade.

No caso alvo de sindicância, é Brennand quem acusa uma outra colega da mesma academia e seu noivo de ameaça, difamação e injúria. Isso ocorreu após a mulher, que não teve o nome divulgado, registrar um boletim de ocorrência contra o empresário pelo suposto envio insistente de mensagens para ela.

A mulher conta que bloqueou o contato de Brennand no WhatsApp, mas ele seguiu mandando mensagens pelo aparelho do filho e por SMS. No boletim, ela afirma que Brennand é um homem "extremamente violento, que tem contra si processos por agressão e medidas restritivas de liberdade interpostas por outras vítimas".

Nos autos da manifestação, a delegada Maria Corsato pediu que o juiz mantivesse a apuração em sigilo e comparou a situação com o caso da Escola Base -episódio ocorrido em 1994 em que donos de uma escola e um motorista foram injustamente acusados de pedofilia.

A promotora Marcia Leguth argumentou que o pedido não tem fundamento e que há provas concretas contra Brennand. Ela também criticou a condução do caso pela delegada e afirmou que o inquérito tem lacunas de informação e imprecisões.

Em novembro, a mulher envolvida na discussão apresentou uma petição pelo arquivamento desse inquérito e pela instauração de outro -agora para investigar Brennand por suspeita de injúria, perseguição e denunciação caluniosa.

O Ministério Público ouviu a mulher e concordou com a abertura da nova investigação. Para isso, solicitou a lavratura de um novo boletim de ocorrência por parte da delegada, o que não ocorreu. Para a promotora, houve recusa da policial.

A reportagem conseguiu contato com Maria Corsato, que concordou em explicar seus argumentos e falar da sua atuação. Porém, para conceder entrevista à imprensa, ela precisaria de autorização da 2ª Seccional de Polícia Civil da Capital. A corporação não respondeu a respeito do pedido de entrevista e enviou uma nota em que afirma que o inquérito conduzido por ela foi arquivado pelo juiz a pedido do Ministério Público.

Para a promotora, o caso proposto por Brennand foi instaurado com base em "prova maculada" e que há indícios suficientes de eventual "crime de denunciação caluniosa a ser investigado". Um deles é o fato de Brennand ter apagado mensagens dele no diálogo apresentado à polícia contra a mulher e seu noivo.

"Não sabemos o que ali estava escrito e nem o que a suposta vítima [Brennand] foi inquirida a respeito do que ela própria deletou na conversa", diz a promotora.

A Promotoria enviou o caso à Delegacia Geral da Polícia Civil e à Corregedoria da Polícia Civil, solicitando a possibilidade de designar outro delegado para a instauração do inquérito. Foi esse pedido que motivou a decisão do órgão policial de apurar a conduta de Corsato. A medida foi confirmada pela SSP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo).

A pasta afirma ainda que a investigação sobre suposta injúria, perseguição e denunciação caluniosa solicitada pela mulher contra Brennand foi encaminhada à 2ª Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas. "A equipe da unidade trabalha para esclarecer os fatos", diz.

Brennand é alvo de cinco denúncias e três pedidos de prisão preventiva pelo Ministério Público de São Paulo. À época do caso de agressão contra Alliny Gomes, sua defesa afirmou que ele compareceu espontaneamente para prestar esclarecimentos às autoridades e disse que os vídeos mostram que as agressões verbais foram iniciadas pela modelo.

Desde o fim de setembro, Brennand é representado pelo advogado Ricardo Sayeg. A Folha procura o escritório desde então para falar das acusações contra o empresário e recebe como resposta que o advogado não se manifestará a respeito. Nesta segunda (5), a reportagem não conseguiu novamente contato.

Nos últimos meses, Brennand publicou vídeos para falar das investigações. No último, ele xingou promotores e advogados envolvidos, negou os supostos crimes e disse ser alvo de perseguição. Disse ainda que, no Brasil, a maioria das denúncias de assédio sexual é falsa -a tese dele, porém, é refutada por especialistas.


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