SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os registros de roubo em parte da região central de São Paulo dispararam neste ano e atingiram um recorde, superando inclusive os números de 2019, pré-pandemia de Covid-19.

Dados da SSP (Secretaria de Segurança Pública) indicam que o 77° DP (Santa Cecília), que abrange boa parte da região conhecida como cracolândia, acumulou, de janeiro a outubro, seus maiores números de roubo e furto desde 2002, quando teve início a série histórica.

A delegacia, que fica na alameda Glete e é vizinha da concentração de usuários da rua Helvétia, apresentou aumento de 16% na quantidade de roubos e de 27% na de furtos, também comparado o saldo dos dez meses deste ano com o de 2019.

A subida ocorre no mesmo ano em que usuários de drogas se espalharam pela região central da cidade devido à intensificação de ações conjuntas da prefeitura e do estado.

Representantes do município, do governo e da Polícia Civil negam que a dispersão possa ter refletido no recorde de casos.

Em nota, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) disse que não há qualquer relação nos aumentos de crimes contra o patrimônio com a Operação Caronte, "que já acontece na região central de São Paulo há dois anos".

Localizado na Liberdade, o 1° DP (Sé) contabilizou 3.836 casos de roubos entre janeiro e outubro deste ano, 36% a mais em relação ao mesmo período em 2019, ano pré-pandemia de Covid. A quantidade de furtos, por sua vez, caiu 10%.

No 3° DP (Campos Elíseos), o crescimento do número do total de roubos neste ano, até outubro, foi de 41% em comparação ao mesmo intervalo de 2019. A quantidade de furtos, por outro lado, teve queda de 23,5%.

No total, as três unidades da região registraram o maior número de roubos da série histórica.

Na última semana, a Folha de S.Paulo mostrou que motoristas e pedestres têm sido vítimas de arrastões na avenida Rio Branco, uma das principais avenidas do centro paulistano.

Uma das vítimas da onda de violência foi um aposentado de 62 anos, que mora na região pediu para não ser identificado.

Na tarde de 28 de outubro, ele e um amigo que tinha saído de Salvador (BA) passearam por pontos conhecidos do centro, como o viaduto do Chá e a praça da República.

Por volta das 18h30, quando seguiam para o hotel em o amigo estava hospedado no largo General Osório, foram abordados por uma mulher e dois homens na calçada da Sala São Paulo.

O aposentado tentou reagir, mas, durante a luta com um dos criminosos, machucou-se. Os ladrões levaram celular, documentos e dinheiro e, segundo ele, correram para uma concentração de usuários de drogas.

O crime ocorreu na área do 3° DP, e o boletim foi registrado pela internet.

O delegado Roberto Monteiro, titular da 1ª Delegacia Seccional Centro, disse que criminosos aproveitam para agir e se esconder entre os dependentes químicos, o que pode induzir a população a achar que são frequentadores das concentrações.

De acordo com o policial, que é responsável pelos distritos do centro, 13 pessoas foram presas por roubos e furtos na região da cracolândia em novembro. "Só criminosos bem vestidos e bem fisicamente para correr muito", afirmou ele.

Monteiro disse que tem colocado toda sua equipe nas ruas na tentativa de investigar e conter crimes na área central.

Na avaliação do secretário-executivo de Projetos Estratégicos da Prefeitura de São Paulo, Alexis Vargas, o aumento da violência não parece ter relação com a dispersão da cracolândia, "pois é geral na cidade e no estado".

"A região da Sé inclusive teve aumento mais significativo do que Campos Elíseos, Santa Ifigênia e Santa Cecília", afirmou Vargas.

"O que temos desde a dispersão é um aumento nos números de atendimento e também nas autuações relacionadas aos dependentes químicos. Temos hoje um acesso e um controle muito superior na região, onde o poder público acessa e monitora todos os espaços, o que não ocorria antigamente", completou.

Para o tenente-coronel aposentado da PM Adilson Paes de Souza, doutor em psicologia escolar e do desenvolvimento humano pelo Instituto de Psicologia da USP, o aumento da criminalidade pode estar associado a dois fatores: uma estrutura de segurança pública falida aliada a uma opção totalmente equivocada de ação estatal em relação à cracolândia.

"Nós não temos efetivamente policiamento preventivo. O efetivo da polícia é reduzido, defasado. Falta policial para exercer o policiamento ostensivo. Por sua vez, acontecido o crime, falta estrutura na Polícia Civil para fazer uma investigação rápida", disse Souza.

"Estão enfrentando o problema da maneira adequada visando dar uma solução, até mesmo porque uma solução leva tempo. Eles estão espalhando, estão tentando acabar com a cracolândia única e simplesmente através da intervenção policial, da força física."

O coronel reformado José Vicente da Silva Filho, ex-secretário Nacional de Segurança Pública e professor do Centro de Altos Estudos de Segurança da PM de São Paulo, afirmou ser necessária uma melhor análise do cenário para apurar as causas.

"O 3° DP teve evidente incremento de roubo. Pode ter sido pela dispersão da cracolândia, mas isso só pode ser verificado pelos BOs de lá", afirmou.

Procurada, a SSP declarou que, desde maio, o Governo de São Paulo ampliou o número de policiais nas ruas com a Operação Sufoco. Com isso, os roubos de veículos recuaram 12,1% em outubro.

A gestão Rodrigo Garcia (PSDB) acrescentou que o trabalho das polícias paulistas na capital, em outubro, resultou em 2.475 prisões e apreensões de adolescentes infratores e 288 flagrantes de tráfico de drogas registrados.

A pasta afirmou também que a ampliação do rol de crimes atendidos pela Delegacia Eletrônica elevou a quantidade de boletins registrados, diminuindo a subnotificação.

Na tentativa de reduzir crimes, o governo lançou, no último dia 4, edital para selecionar 2.700 soldados que irão atuar no policiamento ostensivo nas unidades da PM.


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