RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - Assassinada de forma brutal quando tinha 20 anos, Isabel Cristina Mrad Campos (1962-1982) é oficialmente a nova beata brasileira. A cerimônia em reconhecimento ao martírio da jovem foi realizada neste sábado (10) em Barbacena (MG).

Isabel Cristina foi morta há 40 anos em Juiz de Fora (MG) por um homem que trabalhava na montagem de um guarda-roupas em sua casa.

Nascida em 29 de julho de 1962 em Barbacena e filha de uma família muito religiosa, ela havia se mudado para Juiz de Fora para fazer cursinho pré-vestibular para tentar cursar medicina numa universidade.

Em 1º de setembro de 1982, o homem contratado para prestar serviços no apartamento em que ela morava com o irmão tentou estuprá-la. Ela resistiu, mas teve as roupas rasgadas, foi agredida, amarrada e amordaçada, antes de ser morta com 15 facadas.

Seu martírio foi reconhecido pelo papa Francisco em outubro de 2020, mas a pandemia da Covid-19 impediu que a cerimônia fosse realizada antes.

Na solenidade deste sábado, realizada no parque de exposições Senador Bias Fortes, na cidade em que Isabel Cristina nasceu, o cardeal Raymundo Damasceno Assis, arcebispo emérito de Aparecida e que presidiu a cerimônia, fez reflexões sobre a morte do corpo, mas não da alma, e disse que a então jovem não teve medo de quem matou seu corpo. O ato foi acompanhado por familiares de Isabel Cristina, como o irmão dela, Paulo Roberto Mrad Campos.

Ele ainda pediu na homilia que o exemplo da agora beata dê coragem às pessoas para aceitarem suas dificuldades e angústias sem temor.

A leitura da carta apostólica, em que o papa Francisco inscreveu Isabel Cristina entre os beatos, foi feita em latim por dom Raymundo e em português pelo monsenhor Danival Milagres, coordenador geral da cerimônia de beatificação. A data para a celebração litúrgica definida foi a de 1º de setembro, a mesma em que ela foi morta, segundo a Arquidiocese de Mariana.

Em 2001, ano em que foi instalado o processo de beatificação, dom Luciano Mendes de Almeida (1930-2006), ex-arcebispo de Mariana, disse em texto publicado na Folha que Isabel Cristina teve formação religiosa desde a infância, quando aprendeu a se dedicar aos pobres.

Discreta, estudou num colégio católico e, além de inteligente, era querida pelos professores, de acordo com ele.

"Não raro, Isabel Cristina ajudava doentes e idosos, dando-lhes, com carinho, alimento na boca [...] Terminado o ensino médio, com apoio dos pais, seguiu para Juiz de Fora. Foi nessa cidade que, após os primeiros meses de estudo, sofreu o assassinato por ter com coragem resistido [...] Ainda hoje, há muitas pessoas que podem testemunhar sobre sua vida e que apresentaram o pedido para que a autoridade eclesiástica examinasse oficialmente suas virtudes e a coragem com que enfrentou o martírio, prova do amor e respeito que dedicava a Deus."

O processo incluiu depoimentos colhidos pelo Tribunal Eclesiástico nomeado pela arquidiocese, que foram enviados a Roma.

"O martírio veio ratificar as atitudes mais profundas de Isabel, que levaram às últimas consequências seu anseio de amar e respeitar a Deus, evitando ofendê-lo", escreveu dom Luciano.

Neste domingo (11), às 15h, será realizada uma missa de ação de graças pela beatificação de Isabel no Santuário Arquidiocesano de Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena, seguida de transladação dos restos mortais da agora beata para a Capela dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, segundo a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).


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