RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Nos primeiros cinco dias de 2023, oito pessoas foram mortas durante operações policiais no Rio de Janeiro. O levantamento do Instituto Fogo Cruzado apontou ainda que, nesses primeiros dias do ano, foram 14 tiroteios e oito feridos.

O caso mais recente foi o de um catador de recicláveis morto nesta quinta-feira (5) durante uma ação da Polícia Militar na Cidade de Deus, na zona oeste da capital fluminense. Dierson Ges da Silva, 50, estava no quintal de casa quando foi atingido.

De acordo com a corporação, os agentes alegaram ter confundido com um fuzil uma madeira que o homem carregava junto ao corpo. "Uma equipe se deslocava pela localidade quando se deparou com um homem conduzindo o que aparentava ser um fuzil, pendurado em uma bandoleira. Os policiais efetuaram disparos e o atingiram. O ferido não resistiu", diz a nota.

A PM informou ainda que os policiais envolvidos na ação já foram identificados, tiveram as armas periciadas e foram afastados de suas funções.

O objetivo da operação seria a prisão de suspeitos de participarem do crime organizado. No fim, dois homens foram presos, e foram apreendidos um fuzil e drogas.

A Polícia Militar abriu um procedimento para apurar as circunstâncias da morte da vítima e a Corregedoria da corporação acompanha a investigação. O caso está à cargo da Delegacia de Homicídios da capital.

Ainda nesta quinta (5), os moradores fizeram um protesto pela morte de Dierson.

A diretora-executiva do Instituto Fogo Cruzado, Cecília Olliveira, considera que a morte do catador não é um caso isolado. "Já tivemos casos de PMs 'confundindo' marmitas, guarda-chuvas e até Bíblia com armas, inclusive em outros estados. Infelizmente são muito mais comuns do que a gente imagina. Não é um erro passível de ser perdoado, esse erro custou a vida de uma pessoa. E mais que isso, as famílias não perdem só quem amam, mas também quem ajuda no sustento da casa", disse.

Segundo ela, é necessário mudanças nos protocolos de segurança. "Tivemos o caso do Roberto Jefferson, que tinha uma arma e atirava contra agentes de segurança e o protocolo de atuação foi completamente diferente, estamos falando de um comportamento adotado principalmente para pessoas pobres, negras e vulneráveis às forças dos agentes de segurança. É importante contabilizar estes casos para adotar medidas para que isso jamais se repita. Precisamos produzir dados sobre isso", afirmou.

O instituto comparou os registros de mortes dos primeiros dias de 2023 com os últimos anteriores à virada do ano. Entre 27 e 31 de dezembro de 2022, foram 11 tiroteios em ações policiais, que terminaram com três pessoas mortas e três feridas.

Em relação ao mesmo período do ano passado, houve oito troca de tiros, dois mortos e outros três baleados.

Já no primeiro dia de 2023, duas pessoas morreram e uma ficou ferida em uma operação policial no Morro da Mineira Catumbi, zona norte do Rio.

A PM disse que foi acionada, na ocasião, para socorrer uma mulher que estaria sob ameaça de criminosos na região. A corporação alega que, ao chegar no local, não constatou a denúncia. Os agentes teriam sido atacados e, então, revidado com tiros.

A investigação ficou a cargo da Delegacia de Homicídios da Capital, e a Corregedoria da PM também está apurando a situação.


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