RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Após inspeção em que verificou "severa degradação das condições de flutuabilidade", a Marinha determinou o afastamento da costa do porta-aviões São Paulo, que está impedido de atracar em portos brasileiros. A força decidiu ainda assumir a operação da embarcação.
O porta-aviões foi vendido em 2021 para um estaleiro turco, mas acabou sendo proibido de entrar na Turquia após denúncias de que carrega grande quantidade de amianto, produto tóxico que causa doenças como câncer e asbestose, uma doença ocupacional que ataca os pulmões .
Foi transportado de volta ao Brasil, mas foi impedido de atracar no Rio de Janeiro e em Pernambuco e estava fundeado cerca de 46 quilômetros em frente ao litoral pernambucano, sob protestos da agente marítima MSK, que intermediou a compra.
Nesta sexta-feira (20), a Marinha informou que fez uma inspeção no navio e concluiu que a compradora da embarcação, a turca Sök Denizcilik and Ticaret não adotou providências exigidas para preservar a segurança do casco.
Alegando riscos ambientais e ao tráfego aquaviário na região, determinou o afastamento do São Paulo para águas mais profundas e mobilizou duas embarcações para acompanhar o navio: a fragata União e o navio de apoio marítimo Purus.
Definiu ainda que "dadas as condições em que o casco se encontra, não autorizará a aproximação deste de águas interiores ou terminais portuários, em face do elevado risco que representa, com possibilidade de encalhe, afundamento ou interdição do canal de acesso a porto nacional".
Ainda na sexta, a Marinha informou que o rebocador que vinha transportando o porta-aviões "apresentou restrições logísticas" e a operação foi assumida pelo Purus. "Cabe ressaltar que a Sök não deixou de ter responsabilidade pelo bem", frisou.
Especializado em desmanche de navios, o estaleiro Sök comprou o porta-aviões São Paulo por R$ 10,5 milhões em leilão realizado pela Marinha.
Era o maior navio de guerra brasileiro, com 31 mil toneladas, 266 metros de comprimento e capacidade para até 40 aeronaves. Seu armamento era composto por três lançadores duplos de mísseis e metralhadoras de grosso calibre.
Sua exportação chegou a ser proibida por liminar judicial emitida no mesmo dia em que deixou o país a pedido do ex-militar Emerson Miura, que queria transformá-lo em um museu flutuante, inspirado no porta-aviões USS Intrepid, ancorado em Nova York.
Ao ser notificada da liminar, a Marinha informou que o pedido não poderia ser acatado porque a embarcação já estava em águas internacionais. Alvo de protestos de organizações ambientalistas, a viagem é acompanhada em tempo real pelo Greenpeace.
Inventário feito antes da partida contabilizou pouco menos de dez toneladas de amianto a bordo, resultado questionado pela ONG Shipbreaking Platform com base no desmanche de um navio-irmão do São Paulo, chamado Clemenceau, que teria encontrado 760 toneladas do material.
A compradora é acusada ainda de desrespeitar artigos da convenção de Basileia sobre exportação de resíduos tóxicos. A empresa nega que o São Paulo carregue esse volume de amianto e diz que seguiu as regras. Mas admite "demora em compartilhar informações e atualizações sobre o projeto com o público".
Em comunicados anteriores, a Marinha diz que o São Paulo já havia passado por um processo de desamiantização na década de 1990, com a retirada de cerca de 55 toneladas do material, e que não oferece riscos à saúde.
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