SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Frequentadores da região da cracolândia bloquearam um trecho da rua dos Gusmões, em São Paulo, na noite deste domingo (22).

Agentes da Guarda Civil Metropolitana atuaram para dispersar pessoas no local, que atearam fogo em lixo e fizeram barreiras. Por volta da meia-noite, no entanto, os usuários já estavam de volta.

O local que foi interditado fica no trecho da rua dos Gusmões entre a alameda Barão de Limeira e a rua Guaianases.

Também foi feito um bloqueio na avenida São João, no trecho próximo ao largo do Arouche, e veículos precisam voltar de ré.

Segundo um morador da região, por volta das 21h, a GCM soltou bombas na rua Vitória, na intenção de dispersar usuários de drogas que permaneciam no local. Com isso, dependentes e moradores de rua passaram a correr e montar barricadas.

Procuradas para posicionamento sobre o caso, a Polícia Militar, a GCM e a Prefeitura de São Paulo não responderam.

Durante a confusão, segundo relatos, ao menos dois comércios da rua Vitória sofreram tentativas de invasão, com usuários de drogas forçando as portas. Temendo furtos, os comerciantes se reuniram e decidiram passar a madrugada em seus estabelecimentos.

A reportagem apurou que a ação dos usuários ocorreu após circularem boatos de que haveria uma operação de internação compulsória na região a partir da meia-noite.

Como a Folha de S.Paulo antecipou, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) têm como prioridade intensificar as internações de dependentes químicos, e um conjunto de medidas nesse sentido seria anunciado nesta segunda (23).

No último dia 13, Nunes defendeu a internação de usuários que consomem crack há mais de cinco anos.

"É uma avaliação médica, o que não podemos desconsiderar é a realidade dos fatos. Quem está no consumo há mais de cinco anos, são estudos que demonstram, o poder público precisa dar um atendimento, seja internação involuntária, compulsória ou em comunidade terapêutica, seja qual for", afirmou.

Já a gestão Tarcísio trocou o delegado responsável pelas operações na cracolândia, que vinham sendo realizadas pela Polícia Civil e a GCM (Guarda Civil Metropolitana). Com a mudança, a Polícia Militar voltou a ganhar protagonismo no controle da região.

Na quarta (18), por exemplo, PMs ocuparam a praça Princesa Isabel, que chegou a receber a concentração de usuários no ano passado.

Na semana anterior, policiais militares dispersaram usuários de drogas na rua Vitória com bombas de gás lacrimogêneo. A ação ocorreu após a Folha mostrar que usuários haviam pintado uma faixa na rua para demarcar o espaço ocupado por eles.

Em entrevista na última quinta (19), o novo delegado responsável pela região central de São Paulo, Jair Barbosa Ortiz, disse que vai rever as operações feitas pelo antecessor e defendeu menos violência policial.

"Faz 30 anos que eu vejo operações policiais muito incisivas na cracolândia e, até hoje, eu não vi resultado", declarou. "Tendo a acreditar que essa narrativa é mentirosa, de que enfrentar a cracolândia na base de pancada vai resolver."


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