MANAUS, AM (FOLHAPRESS) - A Polícia Federal no Amazonas afirmou na tarde desta segunda-feira (23) que os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, em 5 de junho de 2022, tiveram um mandante.
Segundo o ex-superintendente da PF Eduardo Fontes, que esteve no cargo durante a maior parte das investigações, o caso está 90% concluído e há "indícios veementes" de que Ruben Dario da Silva Villar, o Colômbia, é o mandante dos crimes.
Villar é suspeito de liderar uma organização criminosa de pesca ilegal na região da Terra Indígena Vale do Javari, na fronteira do Brasil com Peru e Colômbia.
"Nunca descartamos nenhuma linha investigativa, e toda estratégia se revelou exitosa. Não tenho dúvidas, nós temos um mandante. Indícios veementes apontam para Colômbia como mandante", afirmou o delegado.
A PF organizou uma entrevista coletiva, na sede da superintendência em Manaus, para dar detalhes dos desdobramentos das investigações.
Os executores foram Amarildo Oliveira, o Pelado; seu irmão Oseney de Oliveira, o Dos Santos; e Jefferson da Silva Lima, o Pelado da Dinha, conforme denúncia do MPF (Ministério Público Federal).
Ainda segundo a PF, uma quarta pessoa foi indiciada sob suspeita de participação no duplo homicídio: Edvaldo da Costa Oliveira é apontada como o responsável por entregar a espingarda de calibre 16 nas mãos de Jefferson, conforme a PF. A arma foi a usada nos assassinatos, e Edvaldo tinha conhecimento do que ocorreria, segundo a polícia.
Os investigadores também adicionaram um crime sob investigação, de corrupção de menores, por ter havido participação de um sobrinho de Amarildo na ocultação dos cadáveres, afirmou a PF.
Entre os indícios citados por Fontes contra Colômbia estão o fornecimento de munições para Amarildo e Jefferson, as mesmas utilizadas nos assassinatos, conforme o delegado.
Outras provas citadas são o fornecimento de embarcação para pesca ilegal, pagamento inicial a um advogado de defesa de Amarildo e ligação na véspera do crime a um dos suspeitos, além de tentativas de ligações nos dias seguintes.
A polícia não tem o conteúdo dessas chamadas, mas os detalhes das circunstâncias em que foram feitas por Villar, segundo o delegado que chefiou a PF no Amazonas.
Ainda não houve conclusão de relatório ou indiciamento de Villar. "Como primamos pela qualidade da prova, ainda serão feitas análises telemáticas, com base nas quebras de sigilos. Isso só vai reforçar as provas dessa autoria intelectual", disse Fontes.
SEGURANÇA MÁXIMA
O suposto mandante dos crimes foi preso inicialmente em julho por uso de documento falso, ao se apresentar à polícia. Desde então, havia dúvidas sobre sua nacionalidade e sobre seu próprio nome, uma vez que ele portava documentos de identidade referentes ao Brasil e ao Peru, segundo a PF.
As investigações confirmaram o nome exato e a nacionalidade: Villar é de Puerto Narino, na Colômbia. Por isso o colombiano é conhecido como Colômbia.
Ele pagou fiança e foi colocado em liberdade, mas voltou a ser preso em dezembro.
A PF pediu que ele seja transferido a uma penitenciária de segurança máxima, a exemplo do que ocorreu com Amarildo, Oseney e Jefferson -o primeiro está no presídio de Catanduvas (PR), e os demais, em Campo Grande (MS).
O inquérito aberto para investigar a organização criminosa armada de pesca ilegal no Vale do Javari também teve relatórios conclusivos, com apontamento de culpa para dez pessoas, conforme a PF. Entre os investigados estão Amarildo e familiares e Villar, apontado como suposto chefe da organização.
Bruno e Dom foram mortos quando navegavam pelo rio Itaquaí, na parte de fora da terra indígena.
O processo tramita na Vara Federal de Tabatinga (AM), que fica na região da tríplice fronteira do Brasil com Colômbia e Peru. A cidade é a segunda mais próxima de Atalaia do Norte (AM), município vizinho da terra indígena Vale do Javari e destino de Bruno e Dom quando retornavam pelo rio.
As audiências de instrução na Justiça Federal no Amazonas estavam previstas para ocorrer nesta semana, mas foram adiadas para março. Nelas serão ouvidas as testemunhas de acusação e defesa do caso. A mudança atrasa o desfecho do processo na primeira instância.
Como apontou a Justiça Federal, as razões para o adiamento foram uma falha de comunicação da própria Justiça e uma indisponibilidade de salas para que os réus acompanhassem as audiências, que serão feitas por videoconferência.
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