GOIÂNIA, GO (FOLHAPRESS) - A Polícia Civil de Goiás indiciou o dentista Igor Leonardo Soares Nascimento sob suspeita de exercício ilegal da medicina e lesão corporal, em Aparecida de Goiânia, na região metropolitana. Segundo o inquérito, uma paciente perdeu parte do nariz depois de ele realizar cirurgia de redução das asas nasais dela. O procedimento, chamado de alectomia, não pode ser feito por dentistas.
O indiciamento do dentista, que está em liberdade, foi divulgado na segunda-feira (23). Ele poderá ser denunciado pelo Ministério Público na Justiça estadual, além de responder a processo administrativo no conselho profissional. Em sua defesa, Nascimento afirma que procedimento foi realizado com sucesso.
A esteticista Elielma Carvalho Braga, 37, disse à reportagem que já passou por 13 cirurgias de reconstrução desde que foi realizado o procedimento estético, em junho de 2020. Imagens cedidas pela paciente mostram o nariz dela com necrose e cheio de bolhas de queimaduras. "Pareço um monstro. Esse cara me mutilou."
Em nota, o dentista afirmou que, na época, "o procedimento foi realizado com sucesso". Ainda segundo o profisisonal, houve complicações no pós-operatório, "que, por motivos individuais relacionados à sua saúde, evoluíram para uma necrose local". O dentista não detalhou quais seriam os aspectos de saúde da paciente que justificariam essa piora após o procedimento.
O CRO (Conselho Regional de Odontologia de Goiás) informou que só pode fornecer detalhes de processo ético finalizado, com condenação a pena pública. Uma resolução do conselho federal proíbe qualquer cirurgião-dentista de realizar procedimentos como a alectomia.
Braga contou que, inicialmente, procurou o dentista para fazer bichectomia, moda entre muitas mulheres jovens em busca de maçãs do rosto esculpidas, depois de ver o perfil dele na internet.
No entanto, segundo a paciente, Nascimento disse que ela também deveria passar por alectomia para que o rosto dela ficasse esteticamente proporcional.
A mulher relatou ter concordado com a realização das duas cirurgias. No total, ela disse ter pagado R$ 2.500 dos R$ 5.500 pelos procedimentos. Primeiro, submeteu-se à bichectomia, em maio de 2020. No mês seguinte, passou pela alectomia.
"A pele [do meu nariz] começou a escurecer no segundo dia depois da alectomia", disse. Ele teria dito a ela que seria uma reação normal. No entanto, a situação piorou. "No terceiro dia, vi que meu nariz estava preto e deu necrose no lado direito."
A esteticista afirmou ter comprado uma pomada indicada pelo dentista logo em seguida, mas, assim que passou na pele, sentiu uma reação mais grave. "Ele disse que iria diminuir os hematomas, mas meu rosto encheu de bolhas até a parte da sobrancelha."
Quatro dias depois do procedimento, ela foi à clínica. Ao avaliá-la, diz a paciente, o dentista percebeu que era caso emergência e a deixou em uma unidade de saúde pública -que não realizou o procedimento por não ser especializada em complicação pós-cirúrgica.
A paciente voltou então no mesmo dia à clínica de Nascimento, mas ele não estava mais lá.
Na nota, Nascimento afirma ter "plena convicção do apoio e assistência ofertada à paciente na época". "Fiz tudo o que pude por ela, até em termos financeiros dos tratamentos subsequentes que ela precisou realizar", disse. Braga contesta ter recebido qualquer ajuda financeira.
A mulher continua tratamento com médico especialista, que se voluntariou a tratá-la sem custos. Ela só consegue respirar com a ajuda de alargadores no nariz.
Por causa da situação, Braga contou que também teve de parar de trabalhar, justamente porque atuava com estética. Segundo ela, o seu caso a deixou insegura.
INVESTIGAÇÃO
No inquérito, a Polícia Civil incluiu documentos dos conselhos regionais e federais de Odontologia e Medicina, além de exames das lesões da vítima. A investigação concluiu que, mesmo sem a formação necessária, o dentista realizou a cirurgia e provocou uma lesão corporal gravíssima na paciente.
Nascimento também foi indiciado sob suspeita de exercício ilegal da profissão por realizar um procedimento cirúrgico exclusivo para médicos. Segundo a polícia, o dentista fazia os procedimentos de maneira habitual, e, em 2021, foi registrado um Termo Circunstanciado de Ocorrência contra ele pelo mesmo crime.
O inquérito foi remetido ao Poder Judiciário. Se for condenado, ele também poderá ter o registro profissional cassado e pagar indenizações a paciente.
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