SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os yanomamis vivem uma catástrofe humanitária. É isso o que afirmou Joenia Wapichana, nova presidente da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), após vir à tona a crise em saúde enfrentada pela população originária, que, no Brasil, vive em uma área amazônica entre o noroeste de Roraima e o norte do Amazonas.

O território yanomami sofre com o aumento da malária e com a desnutrição infantil crônica, que atinge 80% das crianças até cinco anos, segundo estudo recente financiado pela Unicef e realizado em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e o Ministério da Saúde.

Ainda há sinais, constatados por representantes do governo federal, de verminoses e doenças respiratórias.

Os indígenas também enfrentam uma grande invasão de garimpeiros, incentivados por promessas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de legalizá-los e pelo alto preço do minério

São cerca de 20 mil invasores na Terra Indígena Yanomami. Eles contaminam os rios com mercúrio e contribuem para espalhar Covid-19 e malária, além de incentivar o uso abusivo álcool e a prostituição.

Na última sexta-feira (20), a crise fez o Ministério da Saúde decretar estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional.

Quem são os yanomamis?

Os yanomamis são uma das maiores etnias indígenas brasileiras. O povo vive em cerca de 200 a 250 aldeias na floresta amazônica, entre o Brasil e a Venezuela. Segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena, subdivisão do Ministério da Saúde, sua população era de 19.338 indivíduos em 2011.

Há quatro subgrupos yanomamis: yanomae, yanõmami, sanima e ninam. Cada um fala uma língua própria.

Até o fim do século 19, a etnia mantinha contato apenas com outros grupos indígenas vizinhos. No Brasil, os primeiros encontros diretos de grupos yanomamis com colonizadores ocorreram entre as décadas de 1910 e 1940.

Como é a alimentação entre os yanomamis?

A alimentação dos yanomamis é baseada na agricultura e suplementada por produtos da caça e da coleta de frutos e insetos.

Por dependerem da produtividade da terra, eles se mudam periodicamente em busca de solo mais fértil, sendo assim um grupo seminômade.

As tarefas são divididas de acordo com o gênero. Os homens caçam animais, como queixadas, antas, veados e macacos. Já as mulheres cuidam do preparo e demais trabalhos na aldeia.

Como é a cultura dos yanomamis?

A sociedade yanomami é composta de caçadores-agricultores. Eles se dividem em aldeias de malocas plurifamiliares em forma de cone ou abrigos retangulares. Cada maloca é considerada um clã. Seus membros, idealmente, se casam entre si.

Apesar de viverem em moradias autônomas, os grupos fazem trocas matrimoniais, cerimoniais e econômicas.

Um dos pilares da sociedade yanomami é o pajé. À figura é creditada a habilidade de convocar espíritos, os xapiripë, para auxiliar na solução de quaisquer problemas da tribo.

Em que os anomami acreditam?

Como outros grupos originários, os yanomami acreditam no poder dos espíritos e da natureza. Esses espíritos são usualmente invocados por pajés e participam de rituais.

Existem espíritos de mamíferos, pássaros, peixes, répteis, lagartos, crustáceos e insetos. Existem também de diversas árvores, espíritos das folhas, espíritos dos cipós, dos méis silvestres, da água, das pedras, das cachoeiras. Também há, claro, os humanos.

Quais são os rituais dos yanomamis?

O principal ritual yanomami é a cerimônia dos mortos, chamada reahu. Para entrar em contato com os espíritos de seus entes queridos, os membros da tribo inalam um pó alucinógeno chamado paricá.

No organismo, o componente extraído de cascas de árvores deixa os indígenas em estado de transe. Assim, acreditam, eles abrem espaço para incorporarem espíritos dos que já se foram.

O ritual fúnebre dos yanomamis também é singular. Sempre que um membro da etnia morre, o corpo dele é cremado e suas cinzas são incorporadas em um mingau de banana. A mistura é distribuída entre os integrantes da aldeia. A crença é que o espírito do morto protegerá a todos.

O povo yanomami está desaparecendo?

Em abril de 2022, a notícia sobre o desaparecimento de uma aldeia yanomami causou alarme. Cerca de 24 indígenas da aldeia Aracaçá, na região Waikás, em Roraima, desapareceram após denunciarem o estupro e assassinato de uma menina indígena por garimpeiros ilegais.

Dias depois, foi revelado que os indivíduos estavam seguros em outra localidade.

Não se sabe ao certo o quanto a atividade ilegal em terras yanomamis afeta a densidade populacional indígena. Há muitos anos, nativos e ativistas denunciam ataques, perseguições, estupros e assassinatos.


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