SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Inquérito policial concluído nesta quinta-feira (2) pela Polícia Civil apontou falha humana na morte da sargento do Exército Bruna Ploner, 33. Ela se acidentou durante pouso de paraquedas em 24 de abril de 2022 em Boituva (a 121 km de São Paulo).

O relatório, assinado pelo delegado Emerson Jesus Martins, também responsabilizou o CNP (Centro Nacional de Paraquedismo) por fraude processual, pelo fato de o local do acidente ter sido limpo logo após o socorro da paraquedista, antes da perícia.

"Ocorreu ilícito a ser imputado ao Centro de Paraquedismo de Boituva, que não preservou o local", diz trecho do inquérito que será levado ao Ministério Público.

O lugar do acidente, segundo a polícia, foi lavado para dar continuidade a outros saltos e prejudicou o trabalho de perito.

Em nota assinada pelo presidente Marcello Costa, o CNP diz que o local não foi mantido nas mesmas condições por se tratar de um espaço necessário às manobras de pouso e decolagem, sendo que no momento do acidente havia aeronaves em voo aguardando autorização para pouso.

"Não houve nenhuma intenção de prejudicar o local do acidente, sendo priorizada a segurança das aeronaves que aguardavam para pousar", disse outro trecho da nota.

"O vento natural de movimentação das turbinas e o número de pessoas que socorreram no local, por si só, já alteram as condições do local", afirmou a entidade, um dos principais centros de paraquedismo do mundo.

O inquérito disse que não foram encontradas avarias ou problemas técnicos no equipamento usado pela vítima. "Não há elementos que indiquem ter havido infração penal como causa da morte."

Em sua manifestação nesta quinta, o Centro Nacional de Paraquedismo disse que por um "equivoco de procedimento" a atleta de competição do Exército veio a colidir fortemente com o solo, no pátio de manobras de aviões do aeroporto de Boituva.

"Ela tinha conhecimento e capacitação para usar [o paraquedas de competição], ainda que esse equipamento é, normalmente, usado por atletas para fazer manobras radicais", afirmou trecho do inquérito policial, que cita "cunho individual da vítima".

No documento, o delegado frisou que o socorro foi rápido, porém, inadequado. Ele repete no inquérito declarações do marido da paraquedista que "se a vítima tivesse sido atendida por médico socorrista com equipamento adequado [UTI fixa ou móvel], haveria maior chance de vida".

Segundo o Centro Nacional, imediatamente após o acidente foi acionada equipe de saúde e o Corpo de Bombeiros e que em sete minutos Ploner estava sendo socorrida, ainda com vida, ao hospital de Boituva que, segundo a polícia não tem unidade de terapia intensiva.

À Folha de S.Paulo, no ano passado, o CNP afirmou que há socorristas no local.

Além da sargento do Exército, no ano passado outros três paraquedistas morreram em Boituva. Também houve a queda de um balão, em maio, que feriu gravemente uma pessoa.

Em 11 de maio, dois paraquedistas morreram e outras 14 sofreram ferimentos após o avião em que estavam atingir uma torre de alta tensão e cair em Boituva.

A aeronave caiu numa área de pasto ao lado da estrada vicinal Alfredo Boratini.

Estavam a bordo o piloto e 15 paraquedistas. Um dos mortos foi André Luiz Warwar, 53, gerente da competência de imagem, estratégia e tecnologia da TV Globo. O outro foi o instrutor Wilson José Romão Júnior, 38.

Em 20 de julho, o empresário Andrius Jamaico Pantaleao, 38, morador em Diadema, na região metropolitana da capital, caiu sobre a cobertura de uma casa no bairro Cidade Jardim.

Na época, Uellington Mendes, presidente da CBPQ (Confederação Brasileira de Paraquedismo), afirmou que o dispositivo de acionamento automático chegou a ser iniciado, segundo análise feita junto com a polícia, mas o paraquedas não abriu.

Por causa desse acidente, a polícia conseguiu barrar saltos em Boituva por dez dias. Uma decisão judicial permitiu a retomada das atividades.

Logo após a morte de Pantaleao, a prefeitura afirmou ter planos para construção de um novo alvo para pousos em uma área próxima ao CNP, dando mais uma opção para que os atletas evitem descer em regiões povoadas por problemas de vento. O local ainda não foi construído.

O presidente da CBPQ defendeu nesta quinta mais uma vez a segurança do esporte, mas alertou para que atletas sigam com mais zelo as normas do código esportivo da confederação e as regras de cada área de salto para evitar acidentes.

Na nota, o Centro Nacional de Paraquedismo disse que o esporte é praticado dentro dos melhores padrões de segurança.


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