SÃO SEBASTIÃO E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com pequenas pás e baldes, bombeiros e homens do Exército escavam o terreno onde antes havia cerca de dez casas na rua Zero, na Vila do Sahy, uma das duas mais afetadas pelo temporal que atingiu São Sebastião e outras cidades do litoral paulista no último fim de semana.
Moradores afirmam que há 30 corpos ou mais soterrados no local. Acima, a clareira de mais de 50 metros revela a origem da terra e dos troncos de árvores que fizeram as casas de alvenaria desaparecer por completo.
O porteiro Antonio Muniz dos Santos, 44, acompanha os trabalhos na esperança de encontrar a filha de 22 anos. A casa em que ela morava com o marido desapareceu sob a lama. "Eu espero que Deus me ajude a ao menos encontrar minha filha", diz.
Santos também mora no bairro, mas a cerca de um quilômetro de distância da parte íngreme da encosta. "Lá em casa só subiu um pouco a água", conta. "A minha mulher está à base de remédios, ela acorda no meio da noite chamando pela filha."
Algumas das casas soterradas eram ocupadas por um grupo, muitos da mesma família, que alugou os imóveis para passar o Carnaval. Das 30 pessoas que vieram de cidades na região metropolitana de São Paulo, como Osasco e arredores, 27 morreram, relatam moradores.
"Eu conhecia as pessoas que alugaram as casinhas, eram de São Paulo, meus amigos", disse Adriana Carlos, 48. Auxiliar de cozinha em Boiçucanga, bairro de São Sebastião, ela conta que indicou as casas para os amigos. "Eu indiquei porque era mais barato, R$ 300 a diária... lá para baixo [mais perto do mar] custa R$ 2.000", disse. "Eu só queria ajudar, jamais imaginei isso", acrescentou, repetindo a frase por três vezes enquanto via a remoção da lama.
Também moradora da vila, a cozinheira Nathalia Cerqueira, 25, conta que tem atuado no resgate desde o início do trabalho, antes mesmo da chegada dos socorristas. E diz que cenas que não a deixam dormir.
"Reconheci entre 10 e 15 corpos de amigos e vizinhos", disse ela, acrescentando que há corpos desmembrados e que o cenário é de guerra.
As primeiras máquinas pesadas só se aproximaram do local no início da tarde desta terça-feira. Uma escavadeira cedida por empresários chegava pela rua Um, paralela à rua Zero.
Um pouco acima, um corpo havia sido encontrado minutos antes, indicando que ainda levaria algum tempo para o maquinário entrar em ação. Para chegar ao local em que estava corpo, era preciso subir uma pequena montanha de entulho e lama cuja altura obrigava uma pessoa de 1,8 metro a se abaixar para não bater a cabeça na lâmpada de iluminação pública presa ao poste inclinado em direção ao que já foi uma rua.
As duas ruas mais afetadas são ligadas pela travessa São Jorge, onde corpos, inclusive o de um bebê, foram resgatados. Carros estão enterrados até o teto no local.
"Eu perdi meu avô e meu tio aqui", disse, chorando, Gilmara Souza, 31, enquanto apontava para o lamaçal. "Acabou, eu vou embora daqui".
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