SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Por volta das 16h desta quinta-feira (23), começou o velório das irmãs Ana Vitória e Thaline Cordeiro, de 7 e 16 anos, vítimas dos deslizamentos causados pelo temporal que atingiu o litoral paulista no último fim de semana.
Elas viam o mar pela primeira vez, acompanhadas dos vizinhos Ronei e Cristiano Olivares, de 51 e 9 anos, pai e filho, também mortos na tragédia. O grupo estava na região da Barra do Sahy, em São Sebastião (SP), a mais atingida pela tempestade.
A cerimônia, atrasada por uma forte chuva, foi realizada na capela principal do cemitério da Vila Formosa, na zona leste de São Paulo, onde elas viviam.
Um grupo de dez familiares esteve presente no local, entre eles uma irmã das meninas, Ana Glória Cordeiro, 21.
"É difícil, eu não tenho mais lágrimas para chorar. Não acredito serem elas. Não dá", disse, enquanto abraçava a agora a irmã caçula, Thailany Cordeiro, 16, que estava atônita. Todos os presentes se empenhavam para consolá-la, sem sucesso.
"As meninas estavam conhecendo o litoral. Passeando. Não pode ser real, estou vivendo um pesadelo. Elas eram crianças felizes por viajar", disse Thailany, aos prantos.
Era a primeira vez em muito tempo que a família se reunia. O irmão do meio, Gabriel, 19, estava internado havia meses para tratar um quadro de depressão profunda. Nesta tarde, ele deixou o hospital acompanhado de uma equipe para se despedir das irmãs.
Gabriel recebeu o diagnóstico como depressivo após outra tragédia familiar. Em setembro passado, seu irmão mais velho morreu após enfrentar um edema pulmonar ?acúmulo de líquido nos pulmões. Ele tinha 27 anos e era usuário de crack.
A matriarca da família, Tatiane Cordeiro, 41, chegou no meio da cerimônia. Ela havia estado no litoral para identificar os corpos das meninas, que estavam sem documentos no momento do desastre.
Lado a lado, as irmãs foram enterradas às 17h40.
O número de mortos em decorrência das chuvas históricas que atingiram o litoral norte chegou a 50 nesta quinta. São 49 em São Sebastião e 1 em Ubatuba. Ao todo, 38 corpos já foram identificados e liberados para sepultamento. São 13 homens, 12 mulheres e 13 crianças.
Também nesta quinta, Exército e bombeiros isolaram o acesso aos locais que concentraram as mortes na vila do Sahy, em São Sebastião. Com chance mínima de ainda encontrar sobreviventes sob a lama, a área precisa ficar livre para a entrada de escavadeiras e máquinas para a fazer a retirada dos corpos.
A Polícia Militar paulista pede a turistas que não viajem para o litoral norte do estado neste fim de semana. O receio é aumentar, sem necessidade, a demanda por agentes nas estradas e nas cidades vizinhas a São Sebastião, atrapalhando as buscas por sobreviventes.
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