SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A base federal instalada há duas semanas na aldeia Palimiú, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, foi alvo de atentado na madrugada desta quinta-feira (23), segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis).
Em nota, o instituto diz que criminosos armados teriam furado o bloqueio montado no rio Uraricoera e atirado contra agentes que haviam abordado uma das embarcações. Os fiscais teriam revidado, ferindo um dos garimpeiros.
Ainda segundo o Ibama, o homem foi detido pela Polícia Federal por atacar servidores públicos e estava internado até a noite desta quinta.
"Os criminosos desciam o rio em sete 'voadeiras' de 12 metros carregadas de cassiterita. O carregamento de minério roubado da terra indígena foi identificado por drones operados pelo Ibama. Após o ataque, os criminosos fugiram", diz a nota.
A base federal de controle, cujo objetivo é impedir a entrada de barcos com suprimentos e equipamentos para garimpo no território yanomami, é protegida por agentes da Força Nacional de Segurança Pública, da Polícia Rodoviária Federal e do Ibama.
O Ibama afirma que desde a instalação de uma barreira física com cabos de aço sobre o rio, no último dia 20, nenhum barco carregado seguiu em direção às áreas de garimpo ilegal.
"Foi um ataque criminoso programado. Todos aqueles que tentarem furar o bloqueio serão presos. Acabar com o garimpo ilegal é uma determinação do presidente Lula", disse o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho.
A operação para destruição da logística do garimpo e retirada de mais de 20 mil invasores da região teve início de forma descoordenada entre os órgãos envolvidos. Ministérios do governo Lula (PT) vêm manifestando posições divergentes sobre o tratamento a ser dado à fuga dos garimpeiros, o que pode influenciar o ritmo da desintrusão da terra indígena.
Integrantes do Ibama se sentiram excluídos do planejamento para a Operação Libertação, capitaneada pela PF e pelas Forças Armadas. O órgão ambiental executou as primeiras ações contra o garimpo no dia 6 de fevereiro. PF e militares, no dia 10. O balanço de uma semana da operação deixou de fora dados das ações do Ibama.
Um consenso possível no comando conjunto da operação, que funciona na superintendência da PF em Boa Vista, foi sobre a necessidade de abrir caminhos para garimpeiros em fuga. Mas há divergências, por exemplo, sobre a decisão de abrir corredores aéreos até maio, adotada pela FAB. O Ministério da Justiça enxerga exagero. A Defesa defende a medida.
Também há divergência sobre dar ou não suporte logístico para a retirada de invasores.
"A discussão quanto a restrições ou abertura parcial do espaço aéreo na região Norte partiu do Ministério da Justiça", disse o Ministério da Defesa, em nota. "O tema está em estudo e possíveis alterações ao longo da operação são decisões ministeriais, que cabem ao Comando Operacional Conjunto Amazônia executar."
O Ministério da Justiça, por sua vez, afirmou que não existe descoordenação nas ações. "Em que pese haver uma operação integrada, cada instituição não deixa de atuar também dentro de suas áreas de competência constitucional e legal, conforme princípios de conveniência e oportunidade", disse, em nota.
A pasta não dará apoio ao transporte de garimpeiros, por haver incompatibilidade entre a natureza criminosa do garimpo ilegal e um apoio logístico pelo governo, conforme a nota. "A prioridade do ministério é proteger o povo yanomami, por meio da retirada dos garimpeiros ilegais do local."
O governo pouco avançou ainda na investigação sobre a denúncia de que 30 adolescentes yanomamis ficaram grávidas após estupro por garimpeiros. O relato foi feito por lideranças indígenas a uma equipe do MDH (Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania), que divulgou a informação e disse que daria início a uma investigação prévia.
Segundo a pasta, as apurações estão em andamento e não há o que comentar por enquanto.
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