SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A advogada Luanda Pires, 34, diretora do Me Too Brasil, afirma ter deixado sua casa na capital paulista e passado a seguir uma série de protocolos de segurança após receber ameaças de morte por causa de seu trabalho na organização, que atua contra violência sexual.
O caso teve início quando ela recebeu um email anônimo informando que um homem queria "matá-la e vendo meios para isso". "Recorri a entidades como o Instituto Marielle Franco e a OAB e comecei a andar com segurança", relata. O homem em questão é um dos investigados pela associação por ter abusado sexualmente de uma vítima, segundo Luanda.
O caso é investigado pela Polícia Civil.
Desde o fim do ano passado, conta, sua rotina mudou completamente quando seu segurança encontrou um chip de rastreamento em seu carro. Imagens de câmeras se segurança mostram o momento em que um homem se aproxima do veículo logo após a advogada descer para entrar em um supermercado na zona sul de São Paulo.
Na sequência, o suspeito se aproxima do veículo, abre a porta e se afasta rapidamente.
"Quando eu voltei do supermercado, uma senhora gritou do outro lado da rua que tinham mexido no meu carro", relata. No dia seguinte, um chip foi encontrado por seu segurança colado embaixo do banco do motorista. "Isso indica que eu estava sendo monitorada", diz.
Ela conta que percebeu algo de errado quando acionou o alarme do carro para abri-lo e o sistema não emitiu nenhum barulho. "A polícia disse que foi usado um 'chupa-cabra' para desinstalar o alarme e abrir o carro sem chamar atenção", diz a advogada.
Luanda atua há cerca de dois anos à frente da organização e afirma nunca ter recebido nenhuma ameaça de morte. "É algo que tem início, mas não tem o fim. É um absurdo, aterrorizante e revoltante ter alguém ameaçando sua vida", diz.
Apesar das mudanças impostas à sua rotina, Luanda segue atuando como advogada nos casos de vítimas acompanhadas pela associação. "É sinal de que o trabalho está dando certo."
Em nota, a Me Too Brasil condenou as ameaças contra Luanda e pediu rigor nas investigações. "Não bastando a subnotificação das denúncias de agressões contra as mulheres e a desconfiança contra as denunciantes no sistema Judiciário, nos deparamos ainda com a violência contra as defensoras das vítimas", diz trecho da nota. A Me Too Brasil foi formada na sequência do movimento dos EUA após denúncias de assédio sexual de atrizes.
Em sua conta no Twitter, a atriz Alyssa Milano pediu a todas as mulher que já sofreram assédio sexual publicassem a hashtag #metoo. O movimento teve adesão de uma série de celebridades de Hollywood e se consolidou em outros países.
A versão brasileira do movimento prestou apoio a casos de grande repercussão, como o da influenciadora Shantal Verdelho, que denunciou violência obstétrica no parto de sua segunda filha, em 2021, e o das servidoras da Caixa Econômica Federal, vítimas de assédio pelo então presidente do banco Pedro Guimarães.
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