WASHINGTON, ESTADOS UNIDOS (FOLHAPRESS) - Começa a chover forte na capital dos Estados Unidos, e os canais de TV, incluindo aqueles por assinatura, são interrompidos por um alerta. Ao som de uma sirene, o letreiro na tela diz para evitar as regiões próximas aos rios de Washington, que podem alagar que devido ao alto volume de água. Uma mensagem de texto também chega pelo celular dizendo para evitar determinada área pelo menos até um horário específico.

Os EUA utilizam diferentes mecanismos para prever e alertar a população de eventos climáticos extremos, como as fortes chuvas que deixaram mais de 65 mortos no litoral norte de São Paulo neste mês. Além de alertas na TV e celulares, são comuns também sirenes para tornados no interior e no sul do país e para furacões e tsunamis em estados costeiros, como Califórnia, Oregon, Flórida e Havaí.

Isso não significa, porém, que o país esteja a salvo de danos e mortes em emergências climáticas. Dados do governo americano mostram que em 2022 houve 18 eventos climáticos extremos, que deixaram no total 474 mortos.

Foi o terceiro ano com mais situações desse tipo país desde 1980. Estão incluídos na lista três furacões, incluindo o furacão Ian, que deixou 149 mortos na Flórida; 11 tempestades e uma enchente, entre outras catástrofes.

Esses eventos têm um custo alto. Só em 2022, os danos estimados foram de US$ 165 bilhões. A maior parte desse prejuízo, mais de 70% do total, ocorreu somente com o furacão Ian.

Para a meteorologista Amanda Rehbein, brasileira que faz pós-doutorado no Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos EUA (NCAR), no Colorado, o Brasil tem mecanismos bons o suficiente para prever desastres climáticos como o que ocorreu em São Paulo, mas pode melhorar a forma como alerta a população.

"A educação da população para esses eventos aqui é muito importante. Em áreas de risco, as pessoas ouvem a rádio meteorológica e prestam atenção nos alertas da Defesa Civil, ficam atentas e sabem o que fazer, acredito que haja esse componente cultural', diz.

Ela cita orientações práticas como não sair de carro se a água passa da metade do pneu do veículo. "Mas também tem as pessoas que não querem abandonar suas casas e acabam morrendo porque insistem em ficar, os rios sobem muito rápido, principalmente nas regiões costeiras como a Flórida."

Rehbein pesquisa no NCAR o modelo de previsão do tempo WRF ("pesquisa e previsão do tempo", na sigla em inglês), o mesmo utilizado pelo MetSul, empresa que apontou com mais precisão a chuva histórica que caiu no litoral.

A companhia falava em marcas isoladas de 600 mm a 700 mm de chuva, e o Governo de São Paulo registrou 682 mm, recorde no país.

O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) também utiliza o mesmo modelo, mas falou em 400 mm. A diferença se deu porque, com capacidade computacional menor, as imagens da atmosfera utilizadas pelo instituto têm menor resolução do que as da MetSul, o que compromete a precisão.

Jordan Powers, meteorologista do NCAR que supervisiona o WRF, afirma que isso não significa que a previsão do Inmet estava errada. "Essa chuva de 400 milímetros já seria um evento extremo, que indicava que pessoas poderiam se machucar e deveriam sair de casa", diz.

O WRF é um modelo de previsão criado em 1996 e tem o código aberto na internet para qualquer pesquisador ou governo que desejar utilizá-lo. Hoje, é usado hoje por cerca de 20 países, diz Powers.

São equações que simulam as condições atmosféricas em um determinado período de tempo e permitem fazer a previsão do tempo a partir de imagens de localidades específicas. Quanto maior a resolução das imagens utilizadas, o computador percebe mais detalhes. E quanto maior a capacidade dos computadores que estiverem usando esses códigos, maior é a precisão, diz Powers.

A capacidade dos supercomputadores é medida em uma unidade chamada de "teraflops" ou "petaflops" (1.000 teraflops). O sistema de supercomputadores da NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica) dos EUA, órgão do governo americano que faz previsão do tempo, tem hoje 42 petaflops, com dois novos aparelhos inaugurados no ano passado -até então, a capacidade era de 18 petaflops.

O Tupã, supercomputador utilizado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais), tem capacidade de processamento de 258 teraflops -0,6% da capacidade das máquinas americanas.


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