SÃO SEBASTIÃO, SP (FOLHAPRESS) - Às 9h30 de sábado (4), o casal Marcelo Henrique e Ranielle Rezende colocava os pés na areia da praia de Juquehy, em São Sebastião (SP). Os dois estavam acompanhados da filha Valentina, 6, e queriam aproveitar a manhã livre, já que à tarde tinham um compromisso: eram convidados de um casamento para cem pessoas.

A cerimônia começou a ser idealizada há um ano e meio, contou o assessor de casamentos Rodrigo Carvalho Silva. Assim como ele e como os noivos, a maior parte dos convidados veio de Uberlândia (MG) e passou os últimos dias na expectativa se haveria festa.

"Estávamos com a reserva desde dezembro e decidimos manter depois que um amigo mandou um vídeo e fotos mostrando como estava essa área. Se fosse só pelo que a imprensa está mostrando, não teríamos vindo", disse Henrique.

A única orientação compartilhada entre o grupo de convidados foi evitar tomar a água da cidade. "Viemos de carro e trouxemos água de Uberlândia", relatou Rezende -os próprios moradores ainda estão evitando consumir o que sai da torneira e dando preferência à água mineral.

Para a proprietária do espaço de eventos, Danielle Cannone, as maiores preocupações eram as acomodações dos convidados -eles estão distribuídos em três casas e três pousadas- e os bloqueios nas estradas, que poderiam atrapalhar as entregas dos fornecedores. Nos dois casos, porém, a situação já está normalizada.

"Conversamos com a prefeitura e fomos transparentes sobre a situação com os noivos. Explicamos que, se eles não estivessem tranquilos, poderíamos adiar", afirmou a empresária, que desde as chuvas históricas dos dias 18 e 19 abriga a família de um funcionário no espaço de eventos. "Estamos fazendo o que é possível. As coisas estão lentamente se organizando."

Enquanto a equipe de decoração fazia os ajustes para a festa, em outra parte da cidade, Aylan Oliveira dos Santos limpava a lataria de um sedan branco. Assim como ele, outros quatro homens tentavam dar conta da demanda no lava-rápido, localizado no caminho entre Juquehy e Barra do Sahy.

"Não estamos conseguindo pegar todos os carros porque é um serviço longo. No caso daqueles que ficaram embaixo d'água, são de dois a três dias de trabalho porque é preciso desmontar, lavar e depois remontar", explicou.

Segundo o gerente, alguns locais chegam a cobrar R$ 800 por esse tipo de serviço, mas o estabelecimento cobra em média R$ 300. "Os donos desses carros já tiveram muito prejuízo", comentou.

De fato, ainda há guinchos pela cidade. Alessandro Pereira da Silva, que trabalha há 26 anos no ramo, diz que perdeu as contas de quantos veículos guinchou.

"Estou trabalhando seguido desde domingo retrasado. Vou para São Paulo descansar um pouco e volto durante a semana. Ainda há muitos lugares que não conseguimos acessar, principalmente no Sahy", disse.

Ao longo dos anos de atuação, Silva testemunhou diversos acontecimentos, porém nada como o do litoral norte. "Me lembro do Rio de Janeiro, em 2010 [o estado foi assolado por uma tempestade de 5 horas e 250 pessoas morreram]. Mas aqui está pior".

Os moradores ouvidos pela reportagem sabem que a situação ainda é crítica, mas acreditam que aos poucos a cidade está se recuperando e em breve poderá voltar a receber os turistas como de costume. "Estamos rezando para a Páscoa reativar o turismo. Todo mundo aqui depende disso", afirmou o empresário João Cugler Costa.

Dono de um restaurante na praia Preta, ele foi voluntário nas buscas, auxiliou na produção de marmitas e conseguiu uma casa emprestada para a família de um dos quatro funcionários que tiveram os imóveis destruídos. Agora, a equipe toda está em férias coletivas, uma forma de diminuir o impacto da falta de turistas.

"A falta de turismo aqui atrapalha muito a economia e sem dinheiro não dá para ajudar os desabrigados. Os ambulantes estão reclamando e já estamos começando a ver comércios quebrando", comentou a cabeleireira Talita Mattioli Koth.

Moradora de São Paulo e dona de um apartamento em São Sebastião, ela decidiu descer a serra com a família e comemorar o aniversário de 4 anos da filha na praia por entender que é preciso apoiar a economia da cidade.

"Percebemos que quem mais tem ajudado são as pessoas que conhecem a região e têm boas memórias aqui. Elas sempre desfrutaram e agora estão retribuindo", opinou Patrick Moll, dono de um hostel que abriga vítimas da Vila Sahy.

Assim como ele e a esposa, Naomi, proprietários de pousadas e hotéis da cidade foram convidados a hospedar as vítimas que estavam nos abrigos temporários organizados pela prefeitura. O contrato é de um mês e foi uma forma de, além de dar suporte aos afetados pelas chuvas, manter os estabelecimentos abertos e seus funcionários trabalhando enquanto o turismo não é retomado.

"Essas pessoas precisam se reconstruir, então nem falo da volta do turismo agora. Mas espero que no mês que vem vocês possam nos visitar."


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