SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Moradores de bairros atingidos por enchentes e deslizamentos de terra em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, organizam para a manhã deste sábado (11) um protesto para cobrar respostas do poder público quanto à construção de novas moradias para a população que vive em áreas de risco no município.

Há entre os moradores insatisfação generalizada com a falta de clareza quanto ao emprego de recursos anunciados por município, estado e União durante a crise, segundo lideranças comunitárias locais. Há também cobranças para que valores arrecadados por ONGs sejam auditados e destinados a um plano de amparo aos desalojados.

Inicialmente planejada por grupos dispersos de moradores, a manifestação passou a ser coordenada nesta quinta-feira (9) por uma organização denominada União dos Atingidos pela Tragédia Crime, composta por movimentos de esquerda.

Entre os organizadores estão o Coletivo Caiçara de São Sebastião, Ilhabela e Caraguatatuba; a

Associação de Favelas de São José dos Campos, a Campanha Despejo Zero, Federação das Associações Comunitárias do Estado de São Paulo, o Fórum em Defesa da Vida e o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), segundo Camilo Terra, um dos coordenadores do Coletivo Caiçara.

Cerca de 350 famílias estão desalojadas após as chuvas históricas da madrugada de 19 de fevereiro em São Sebastião, segundo o grupo. O movimento que lidera os protestos estima, porém, que o total de atingidos supere 1.000 famílias, já que muitas retornaram às residências.

"As cobranças que fazemos ao poder público em todas as esferas, em especial à estadual, para a CDHU [Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano], e municipal, são políticas públicas diversas e reconstrução [de moradias e da infraestrutura urbana]", disse Terra.

A expectativa dos organizadores é iniciar a manifestação com uma reunião na Vila Sahy, perto do Instituto Verdescola, instituição que inicialmente acolheu as vítimas da tragédia.

Os manifestantes atravessarão a rodovia Rio-Santos. Havia um plano de interromper o trânsito no local, mas a ideia foi abandonada. Agora, os organizadores pretendem caminhar até a praia da Baleia, onde veranistas de alta renda possuem imóveis.

"Não temos qualquer ilusão de que teremos ajuda do capital, mas a ida até a Baleia é simbólica no sentido de que nunca quiseram a classe trabalhadora à sua volta e isso é um dos motivos da tragédia crime, mas no sábado terão de nos ver, ver as fotos dos que foram soterrados, ver nosso luto e tristeza", disse Terra.

Há entre os apoiadores da manifestação, porém, moradores que se dizem desvinculados de organizações políticas e movimentos sociais.

Entre essas lideranças comunitárias está o eletricista Moiseis Teixeira Bispo, 37, que reivindica informações sobre "os milhões" prometidos para as famílias atingidas. "Sobre a comunidade, o que eu posso dizer, é que estamos no escuro", reclama. "O governador [Tarcísio de Freitas, do Republicanos] e o prefeito [Felipe Augusto, do PSDB] vêm aqui, conversam lá dentro do Verdescola, e a gente não fica sabendo de nada", reclamou.

Bispo cobra a prestação de contas de organizações que arrecadaram dinheiro e o emprego de tais recursos no apoio a um plano de moradia e recuperação de áreas atingidas.

A União dos Atingidos pela Tragédia Crime diz que a prestação de contas das doações não é a principal reivindicação do movimento, mas "pretende solicitar aos órgãos de controle que, de alguma forma, tente auditar estas doações recebidas e se realmente estão sendo empregadas na ajuda aos atingidos".

Prefeitura de São Sebastião, governo estadual, CDHU e governo federal não se manifestaram até a publicação deste texto.

As organizações Gerando Falcões e Instituto Verdescola, que estão entre as principais ONGs que arrecadaram recursos e ampararam os desabrigados, informaram que prestarão contas aos órgãos de controle.


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