SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma pesquisa sobre a circulação de bicicletas em São Paulo recebe até domingo (19) sugestões para os locais de contagem de ciclistas na capital. O objetivo é ter uma fotografia que represente o uso desse meio de transporte para além do centro expandido e da zona oeste.

A consulta pública on-line permite comentários sobre um dos 218 pontos já estabelecidos que terão contagem ou sugestões para novos pontos. A ideia é conseguir responder à pergunta de quantos ciclistas trafegam pela cidade.

Para ciclistas ouvidos pela reportagem, os dados servirão para embasar demandas como conexões entre ciclofaixas de grandes vias, além de manutenção da sinalização. Eles também dizem que vias com muito movimento, mesmo que sejam dentro dos bairros, precisam de fiscalização para evitar que outros veículos atrapalhem o trânsito de bicicletas.

Mas o objetivo da contagem, que começa em abril, é outro. Hoje, São Paulo depende da pesquisa Origem e Destino, feita a cada dez anos, para saber quantas bicicletas trafegam pela cidade. Também há três contadores automáticos fixos da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) ?na avenida Faria Lima, na Rua Vergueiro e na avenida Radial Leste?, além de contadores móveis usados periodicamente.

As informações vão ajudar na checagem do cumprimento de uma das metas do Plano de Ação Climática do Município de São Paulo, que é fazer o uso de bicicleta passar dos atuais 0,8% para 4% até 2030.

O projeto é uma parceria entre Secretaria Municipal de Mobilidade e Trânsito, a CET, a Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo), a Bloomberg Philanthropies e a Transformative Urban Mobility Initiative (TUMI). A iniciativa é financiada pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina.

Alexandre Binotti, 41, mora e pedala na zona leste. Ele diz que as vias de uso interno nos bairros precisam de contagem para mostrar o uso e pedir que motoristas respeitem os espaços. "Em Ermelino Matarazzo, temos a rua Abel Tavares, que chamamos de avenida, por causa do fluxo intenso de carros e ônibus. Frequentemente vemos carros estacionados na ciclofaixa, precisamos de mais fiscalização".

A CET disse que a gerência responsável a pela área vai intensificar a fiscalização na Abel Tavares para evitar o estacionamento irregular. Segundo a companhia, a infração irregular é considerada gravíssima no Código de Trânsito Brasileiro, com penalidade de 7 pontos na habilitação e multa de R$ 880,41. Também afirma que a população pode acionar a CET por meio do telefone 156.

Uma das pesquisadoras do estudo, Tainá Pacheco, da Ciclocidade, afirma que a contagem em regiões fora do centro e da zona oeste é fundamental, mas que as pessoas precisam se engajar na consulta pública.

Até a noite de quinta (16), foram recebidas cerca de 150 contribuições, diz Pacheco, mas a maioria era da zona oeste da cidade, já bem representada em outros levantamentos. "É importante conseguirmos mais gente participando que seja da zona norte, que teve menos quantidade até agora".

Conhecido como Ciclonauta, o publicitário Anderson Augusto, 50, mora em Parada Inglesa, na zona norte, e afirma que a contagem precisa buscar locais onde ainda há pouca ou nenhuma estrutura cicloviária. "Muita gente usa a rua Benjamin Pereira, no Jaçanã, por exemplo, para chegar ao Tucuruvi. Seria importante ter gente contando ali".

Para Thomas Wang, 28, do coletivo Bike Zona Sul, os dados são bem-vindos, mas o poder público já têm informações suficientes para fazer melhorias em gargalos conhecidos da cidade. "É quase impossível ir a algumas regiões da zona sul sem passar pela Ponte do Socorro. Com certeza tem muita gente circulando e precisa de contagem ali."

Wang cita a Operação Urbana da Faria Lima, na zona oeste, que deveria fazer uma ciclopassarela na área da ponte Bernardo Goldfarb para pedestres e ciclistas, porque a estrutura juntaria ciclofaixas dos dois lados do Rio Pinheiros. "Já tem a obrigação por lei, o projeto e a verba, mas não fizeram."

Procurada, a SP Urbanismo afirmou os projetos executivos, orçados em R$ 2 milhões, estão em elaboração. Já as obras, que serão feitas pela SPObras, da prefeitura, têm orçamento de $ 40 milhões.

Tainá, da Ciclocidade, diz que os pesquisadores também farão uma análise qualitativa nos pontos para identificar quem é o ciclista. "Vão anotar se é homem, mulher, entregador, se leva criança, são informações que hoje a cidade não tem".

Além disso, ela afirma que a contagem é uma foto do momento, que poderá ser atualizada em planos da CET no futuro.

Parte dados atuais que baseiam o projeto da contagem são do aplicativo de corridas Strava, que registra o trajeto dos usuários. A própria cidade, diz ela, tem um projeto aprovado que inclui o desenvolvimento de um aplicativo pela prefeitura. O projeto é o Bike SP, de 2016, que incentiva o uso de bicicleta e cria incentivos como a concessão de créditos para os usuários do meio de transporte.

"Se esse aplicativo fosse desenvolvido e usado, teríamos uma base de dados incrível, porque as pessoas cadastrariam sua viagem para ganhar créditos da prefeitura", diz Tainá.

Por enquanto, a ideia é gerar um conjunto de dados que possa auxiliar no monitoramento. A consulta é aberta a qualquer pessoa e fica disponível até domingo (19) no site da Ciclocidade. As contribuições são feitas por meio de formulário na internet. A contagem, feita por pesquisadores distribuídos pelos pontos escolhidos, acontece a partir de abril.

Até 2024, a gestão Ricardo Nunes (MDB) deve construir 300 km de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, segundo o Programa de Metas atual. No balanço mais recente, a administração implantou 36,7 km.

"A cidade tem, atualmente, a maior malha cicloviária do Brasil, com 699,2 km de vias com tratamento para bicicletas", disse, em nota, a administração municipal.

Ainda, a prefeitura afirma que já aprovou, após audiência pública, projetos que somam 350 km de vias para bicicletas.


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