MANAUS, AM (FOLHAPRESS) - O grupo suspeito de exploração sexual de adolescentes em garimpos na Terra Indígena Yanomami é apontado por testemunhas como extremamente violento, envolvido com o tráfico de drogas e ligado a facção do narcotráfico que se faz presente no território.
Enquanto a PF (Polícia Federal), as Forças Armadas e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) colocavam em prática uma operação para destruir a logística do garimpo e promover a retirada de mais de 20 mil invasores, o grupo explorava mulheres e adolescentes em uma embarcação flutuante que funcionava como prostíbulo.
As informações estão descritas em decisão da Justiça de Roraima, que determinou a prisão temporária de quatro suspeitos da exploração sexual -três mulheres e um homem. Também foram autorizadas buscas e apreensões nas casas dos quatro investigados.
As medidas foram solicitadas pela PF em Roraima. No último sábado (18), a corporação deflagrou uma operação para cumprir as prisões e as buscas. Dois foram presos e dois permaneciam foragidos até a tarde desta segunda (20).
A existência de uma organização criminosa que explora adolescentes em garimpos na terra yanomami, mesmo com a deflagração de uma operação conjunta para retirada dos invasores, ficou mais clara a partir do resgate de uma jovem de 15 anos, feito pela PF na noite do dia 14.
O resgate ocorreu em ação da Operação Libertação, em curso há mais de um mês para tentativa de retirada dos invasores da terra yanomami.
Em 12 de fevereiro, seis dias após as primeiras ações para destruição da logística do garimpo, a mãe da jovem procurou a Polícia Civil de Roraima e registrou o desaparecimento da filha.
No depoimento que ela prestou na superintendência da PF em Boa Vista (RR), onde fica o centro de comando da Operação Libertação, a adolescente disse que houve uma proposta para que trabalhasse como cozinheira no garimpo, a partir de um contato por rede social. O deslocamento ao garimpo ocorreu no dia seguinte, em um avião, conforme a PF.
A menina foi obrigada a se prostituir quando chegou ao local, sofreu estupros e não recebeu o prometido, segundo o depoimento dado. Ela conseguiu fugir numa embarcação pelo rio Mucajaí, que corta a terra indígena. A abordagem policial ocorreu nesse rio.
Outras quatro mulheres foram cooptadas para prostituição no mesmo contexto, e a adolescente ficou mais de 20 dias em região de garimpo, segundo os policiais.
A exploração sexual de adolescentes em garimpos na terra yanomami envolve várias meninas com menos de 18 anos de idade, cárcere privado, controle de alimentação, ameaças de morte e submissão a atividades sexuais reiteradas numa mesma noite, segundo relato feito ao Conselho Tutelar em Boa Vista.
As investigações prosseguiram e foi possível identificar quatro suspeitos. Na tarde de sábado (18), outra adolescente foi resgatada pela PF. Ela tem 17 anos e foi encontrada em ação de fiscalização nas proximidades da base montada na região de Walopali. A adolescente estava acompanhada de uma jovem de 20 anos, também submetida à prostituição no garimpo, segundo a polícia.
A PF identificou uma outra vítima da organização criminosa. Essa vítima também colaborou com as investigações.
O flutuante onde mulheres e adolescentes eram exploradas fica próximo a garimpos, numa região conhecida como Zé da Pedra, de acordo com os depoimentos.
Além da prostituição, com mulheres sendo forçadas a se prostituírem, no local havia venda de drogas, conforme as investigações.
A prisão dos suspeitos, segundo a Justiça de Roraima, foi necessária para garantir a colheita de provas e a própria vida e dignidade das vítimas, em razão da periculosidade dos envolvidos, mencionada no curso das investigações.
São investigados crimes como associação criminosa, exploração sexual e estupros reiterados das adolescentes. Os suspeitos praticam atos de violência extrema, atuam no tráfico de drogas, possuem armas e são "faccionados", conforme descrito na decisão judicial.
A ação de desintrusão na terra indígena pode levar de seis meses a um ano, dada a dimensão da invasão, com mais de 20 mil garimpeiros no auge da atividade ilegal.
Em um mês de operação, segundo balanço divulgado pela PF, houve apreensão de 27 toneladas de cassiterita, explorada ilegalmente na terra indígena, assim como o ouro. Houve ainda apreensão ou destruição de 84 balsas e embarcações, de 11,4 mil litros de combustível, de duas aeronaves, de 200 acampamentos e de 172 motores e geradores de energia.
O governo Lula (PT) chegou a fechar o espaço aéreo no território, o que intensificou a fuga de garimpeiros. Depois, houve flexibilização da medida, que durará até abril.
O garimpo ilegal de ouro e cassiterita foi aceito e estimulado pelo governo Jair Bolsonaro (PL), um defensor de mineração em terras indígenas.
O avanço de milhares de invasores, até áreas antes intocadas, já na proximidade da fronteira com a Venezuela, fez explodir entre os yanomamis casos de malária e de doenças associadas à fome, como desnutrição grave, diarreia aguda, pneumonia e infecções respiratórias.
A atual gestão declarou estado de emergência em saúde pública na terra yanomami em 20 de janeiro.
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