CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Em Rio Branco, não é a primeira vez que a água do igarapé São Francisco transborda, atingindo bairros da capital do Acre. Mas uma moradora do bairro Conquista, um dos mais atingidos, resume o que mudou desta vez: "A gente não conseguiu salvar nada".

"Em 2021, a gente teve um alagamento também, mas a água ficou no peito e a gente conseguiu subir as coisas, os móveis. A gente não perdeu nada. Desta vez, a gente perdeu tudo", conta Aline Bezerra, 27, operadora de caixa em supermercado.

A família de Aline está entre os atingidos pelas inundações registradas no Acre após as chuvas da semana passada. Outros pontos na região Norte e Nordeste enfrentam o mesmo problema, como em áreas do Amazonas, do Pará e do Maranhão.

"Na quinta-feira (23), eu cheguei do trabalho e a água tava na rua. Aí a gente começou a levantar as coisas, como a gente tinha feito da vez passada [em 2021]. Mas, duas horas depois, a água já começou a entrar no quintal. Aí a gente começou a acelerar o passo, pra conseguir levantar tudo. Mas, quando deu seis horas da noite, a água já tava na cintura, e a gente teve que sair de casa. No dia seguinte, na sexta-feira de manhã, a água já tinha atingido tudo. A gente só viu o telhado da casa", diz ela.

Aline vive em um terreno com três moradias -a casa dela, onde vive com o marido e o filho de 4 anos, a casa da sogra e a casa de uma cunhada. Com a inundação, a família se dividiu: Aline foi com seu filho para casa de uma tia. O restante da família foi abrigado em uma escola pública.

"Eu tenho um filho autista e ele não pode ficar no meio de multidões. Ele tem que ficar afastado. Então eu vim com ele para a casa de uma tia minha. E o meu marido ficou lá na escola no bairro pra receber as doações, de cesta básica, de kit de limpeza, e pra ficar perto da casa, pra poder verificar como tá a situação", afirma ela.

Aline conta que, nesta segunda-feira (27), a água desceu e o marido e a cunhada já começam a fazer a limpeza das casas, tirando entulhos e lama. Mas, ainda há preocupações. Ela teme que a água volte a subir. "Não para de chover. A água tá subindo novamente, tanto de rios quanto de igarapés". Além disso, ela afirma que ainda não tem ideia de como serão os próximos dias.

"Eu tô muito preocupada. Porque mesmo que eles consigam limpar, a gente tá sem nada, sem colchão pra poder dormir. Quando a água baixar realmente, quando tiver tudo limpo, acho que a gente só vai ter rede pra dormir", completa ela.

O boletim climático desta segunda-feira (27), divulgado pelo governo do Acre, continua com previsão de chuvas intensas em todo o estado. O aviso é válido até as 10h da terça (28). Os dados são do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), repassados ao Cigma (Centro Integrado de Geoprocessamento e Monitoramento Ambiental, órgão ligado ao governo estadual.

De acordo com o governo do Acre, 48 bairros foram atingidos e sete igarapés permanecem em estado de transbordo na capital Rio Branco.

Segundo a Prefeitura de Rio Branco, um total de 1.726 pessoas (483 famílias) permanecem em 29 abrigos públicos, nesta segunda-feira (27). A prefeitura estima que existam ainda 3.500 pessoas desalojadas, ou seja, que estão em casas de parentes ou amigos.

No domingo (26), autoridades e representantes dos governos federal, estadual e do município sobrevoaram as áreas afetadas em Rio Branco e também passaram por ruas do bairro Conquista.

"Uma coisa é certa. Isso aqui tem a ver com a questão da mudança do clima. Estes eventos são eventos extremos. Tem a ver com queimada, com desmatamento. É isso que está fazendo com que a gente tenha chuvas, que eram para acontecer em meses, acontecendo em algumas horas ou em algumas semanas. E aí não tem rio, não tem igarapé que dê conta desta quantidade de água", afirmou Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, durante entrevista à imprensa.

Também estiveram no local o ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, o governador do Acre, Gladson Cameli, e o prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom.

No sábado (25), o governo federal reconheceu a situação de emergência em Rio Branco devido aos estragos causados pelas chuvas. Além da capital do Acre, as cidades de Epitaciolândia, Assis Brasil e Brasiléia também sofreram com enchentes de rios e igarapés.

Ainda no domingo, os ministros Waldez Góes e Marina Silva seguiram para o Amazonas, onde também há problemas após fortes chuvas. A Prefeitura de Manaus transformou duas escolas municipais em abrigos provisórios. Os locais receberam 85 famílias desde sábado (25).


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