SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Vistoriar mochilas ou colocar detectores de metal na porta das escolas não é suficiente para evitar que ataques como o realizado nesta segunda-feira (27), em São Paulo, voltem a ocorrer, avalia o psicólogo Antonio Serafim, professor do Instituto de Psicologia da USP e ex-coordenador do núcleo forense do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.
"Os adolescentes circulam no mundo digital e têm acesso a uma série de informações. Mesmo criando algumas barreiras na escola, não conseguimos detectar essas ações ou esse conjunto de ideias que muitas vezes mobilizam esses comportamentos", afirma.
O professor explica que ataques violentos costumam ser motivados por raiva ou por prazer, e nos dois casos o autor pode reproduzir atos registrados anteriormente -desde o massacre em Realengo (RJ), em abril de 2011, foram registrados ataques em diversos estados, como Goiás, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina e Espírito Santo.
"As pessoas pensam sempre em medidas muito imediatistas, porém isso não garante que não haja os comportamentos. O grande ponto está numa melhora dos processos", complementa. Para ele, a redução da violência escolar requer fundamentalmente o cuidado com a saúde mental nas unidades de ensino.
"Geralmente, o que leva à maior predisposição são situações de reatividade. São jovens que passam por alguma condição que envolva constrangimento ou violência e que vivenciam isso como um sofrimento", afirma Serafim, ressaltando problemas como o bullying.
Nem sempre, porém, a violência é explícita. O psicólogo comenta que os jovens podem perceber o ambiente como um local opressor sem que outros notem seu incômodo, o que reforça a importância da atenção ao comportamento dos alunos.
Nesse sentido, ele defende a necessidade de valorizar e preparar docentes e funcionários. "Eles ficam sobrecarregados e, às vezes, não conseguem detectar determinadas características, determinados sinalizadores".
Vítimas Segundo Serafim, não necessariamente as vítimas do ataque são as pessoas que causaram sofrimento. Embora o autor planeje o crime, a execução pode fugir ao previsto e envolver quem estiver pela frente, provocando danos físicos e psíquicos.
A violência pode prejudicar a capacidade de atenção e memória de sobreviventes e testemunhas. Aceleração cardíaca, medo, irritabilidade, isolamento, depressão e transtorno do estresse pós-traumático também podem surgir em decorrência do evento traumático.
Para reduzir o impacto, ele explica que o primeiro passo é fazer uma avaliação médica e psicológica cuidadosa dos integrantes da escola. Funcionários, professores e alunos com quadros mais acentuados devem ter a opção de atendimento individualizado e podem ser formulados eventos e palestras com profissionais de outras áreas para trabalhar em grupo aspectos da violência.
"A escola passou a ser um espaço de muita cobrança, pressão e competitividade", afirma o pesquisador. "E não podemos esquecer que vivemos na sociedade uma individualização muito grande por parte dos adultos, que reproduzem o tempo todo comportamentos violentos. Precisamos reeducar e repensar essa sociedade numa relação mais integrativa", defende.
"Além disso, temos ambientes familiares que potencializam muito o comportamento violento e os jovens reproduzem esse comportamento. É um conjunto de fatores que precisamos mudar, por isso é importante pensar muito mais em uma política ampla."
Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!