RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O meteorito Santa Filomena foi apresentado nesta quinta (13) como a primeira peça a ser incorporada ao acervo do Museu Nacional no Rio de Janeiro desde que o incêndio destruiu sua sede, em 2018. Pesquisadoras da instituição exibiram a rocha de 2,8 kg recuperada em Santa Filomena, Pernambuco, após a queda de diversos fragmentos no local em 2020.
A peça com idade estimada em 4,56 bilhões de anos ficará exposta no Palácio São Cristóvão no ano que vem, na primeira parte do museu recuperada. A previsão é que a reabertura da entrada principal e o hall de acesso ocorra em 6 de junho de 2024.
Já as obras de toda a complementação do museu devem ficar prontas no fim de 2026. Estima-se que 85% dos 20 milhões de exemplares que estavam no prédio tenham sido destruídos durante as mais de seis horas de incêndio na noite de 2 de setembro de 2018.
"Ano que vem, em 6 de junho, isso aqui estará aberto e restaurado para o público. Esse trabalho mostra, mais uma vez, que os profissionais do Museu Nacional continuam gerando pesquisa de qualidade e realizando parcerias, demonstrando que a instituição está mais viva do que nunca", disse o diretor da instituição, Alexander Kellner.
A nova peça se junta agora a outras da coleção do museu, que inclui também o maior meteorito já encontrado em solo brasileiro, a pedra do Bendegó, achada no século 18 no sertão da Bahia.
Segundo a pesquisadora Elizabeth Zucolotto, o Santa Filomena é classificado como um condrito, que são meteoritos rochosos encontrados de maneira comum. "É um meteorito mais comum, mas o que não é comum é a chuva em cima de uma cidade. Muitos pedaços, principalmente pequenos."
A queda do Santa Filomena aconteceu na tarde de 19 de agosto de 2020, na cidade que leva o nome da peça, no sertão de Pernambuco. Os moradores ouviram um estrondo acompanhado da queda de vários fragmentos do céu. Um deles, inclusive, chegou a quebrar o telhado de uma casa.
No dia seguinte, um grupo de pesquisadores da UFRJ, ligados ao Museu Nacional, chegou à cidade para começar o estudo de identificação das pedras encontradas.
A peça se torna ainda mais especial, de acordo com os pesquisadores, por ser representativa dos primórdios do Sistema Solar. Ela veio do cinturão de asteroides, um espaço sem planetas, que fica entre Marte e Júpiter.
"Ele tem umas estruturas esféricas chamadas condros, intactos há 4,56 bilhões de anos. São vestígios de como era nosso Sistema Solar primordial e nos dão pistas de como os corpos planetários, asteroides e cometas se formaram", disse a pesquisadora Amanda Tosi.
A pesquisa sobre o Santa Filomena foi coordenada pelo grupo de estudo Meteoríticas, com as pesquisadoras Amanda Tosi, Elizabeth Zucolotto, Diana Andrade e Sara Nunes. O trabalho foi publicado pela revista Meteoritics & Planetary Science.
O estudo é assinado também pelo astrônomo amador Marcelo Zurita, da Bramon (Rede Brasileira de Monitoramento de Ateroides), que conseguiu registrar o impacto do bólido celeste que explodiu originando os outros fragmentos. Cientistas da Unesp (Universidade Estadual Paulista) também ajudaram a rastrear a trajetória do objeto no espaço.
REGULAMENTAÇÃO DE POSSE DE METEORITOS
O episódio em Santa Filomena desencadeou uma corrida de caçadores de meteoritos gerando controvérsia sobre o direito de posse dessas rochas. Um projeto de lei, ainda em trâmite, discute como esse patrimônio deve ser tratado no Brasil.
De um lado, há pesquisadores que relutam na venda e posse de meteoritos e, do outro, os que apoiam a regulamentação. A legislação prevê, no entanto, uma porcentagem da rocha para a ciência, liberando o restante para o comércio.
A pesquisadora Elizabeth Zucolotto afirma que a venda da propriedade dos meteoritos regulamentada por lei impossibilita que eles saiam do país ilegalmente. Para ela, isso indica que haverá uma fiscalização suficiente para proibir o contrabando.
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