SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Cerca de 2.000 cirurgias de catarata que deveriam ocorrer ao longo de abril pela rede pública municipal de São Paulo estão represadas desde o início do mês. Os procedimentos ocorreriam em nove unidades de saúde geridas pela entidade Cies Global, que oferece serviços como consultas, exames e cirurgias de baixa e média complexidade para o SUS (Sistema Único de Saúde).
No dia 3 de abril, a prefeitura encerrou o convênio que manteve com a entidade por quinze anos, e no dia 6 assinou um novo contrato para dar continuidade à prestação dos serviços. Por causa da mudança, no entanto, os atendimentos tiveram que ser temporariamente suspensos.
A aposentada Dirce Pereira, de 72 anos, aguarda há mais de dois meses para operar da catarata que deixa a sua visão turva mesmo quando usa óculos. "A primeira consulta eu fiz no particular, mas ia ficar muito caro e resolvi continuar pelo SUS", disse a dona de casa, que precisa operar os dois olhos.
O procedimento estava marcado para a última quarta-feira (19) no Hospital Dia da Vila Carrão, na zona leste, perto de onde mora. Mas quando chegou ao local pela manhã, ela descobriu que não poderia ser atendida. "Queria resolver isso logo, mas por enquanto não tem previsão. Disseram que vão remarcar e me ligar avisando".
Todos os 70 procedimentos agendados para aquela data na unidade foram cancelados, mas nem todos foram avisados pela prefeitura. Além de Dirce, outros quatro pacientes idosos foram até o local e descobriram na hora que não seriam operados na data marcada.
De acordo com o Cies, a Secretária Municipal de Saúde só liberou a retomada das cirurgias de catarata a partir do próximo dia 27. Na prática, as nove unidades gerenciadas pela entidade ficarão ociosas durante quase todo o mês de abril, deixando de entregar a maior parte dos 2.000 procedimentos que costuma realizar mensalmente.
As consultas, exames e algumas cirurgias voltaram a ser oferecidas na semana passada, mas o ritmo ainda está longe do normal. "Até sábado [22] nós conseguimos agendar 513 pacientes, sendo que em uma semana normal atendemos 2.900 pessoas aqui na Vila Carrão", disse a gerente de prática assistencial do Cies Sandra Galvão.
A expectativa é que até o fim de abril 20 mil pacientes sejam atendidos em todas as unidades, número bem abaixo da média de 80 mil atendimentos por mês.
"São pacientes que estão aguardando em fila já há algum tempo, passaram na unidade primária de saúde e foram encaminhados para cá em busca de algum procedimento para elucidar seu diagnóstico. Qualquer atraso vai fazer com que atrase o tratamento. Pode ser algo de longo prazo, sem maior gravidade, mas eventualmente pode levar a dano considerável", acrescentou a enfermeira.
Morador da zona leste, José Carlos de Souza, 71, tentava remarcar uma capsulotomia de YAG laser (procedimento complementar à cirurgia de catarata) para a mulher na quarta.
Dias antes, os dois perderam a viagem até o Ambulatório de Especialidades Santo Amaro, na zona sul. "Levantamos antes das 6h para dar tempo, porque são mais de 20 km. Mas quando chegamos não tinha nenhum médico, estava fechado", disse o motorista, que foi orientado a deixar um número de telefone e aguardar contato com nova data.
Com a assinatura do novo contrato no dia 6 de abril, o Cies, teoricamente, já estaria apto a retomar os atendimentos, mas segundo a secretaria, alguns ajustes resultaram em atraso de quatro dias. A mudança criou ainda dificuldades operacionais.
"Todas as agendas que estavam marcadas para os próximos meses foram canceladas pela prefeitura, que entregou para o Cies a responsabilidade de reagendar todos os 118 mil atendimentos, mas não ofereceu nome, telefone ou endereço dos pacientes, somente o número do cartão do SUS", disse Marcos Fumio, diretor da entidade.
Segundo a administração municipal, as informações atualizadas foram fornecidas no dia 18. Antes disso, a secretaria realizou cerca de 7.000 atendimentos com outros prestadores de serviços em saúde. Desse total, 756 foram de pacientes com hipótese diagnóstica de catarata, mas nenhuma cirurgia foi realizada.
O diretor do Cies afirma que o atraso para retomada dos atendimentos pode levar a entidade, que tem déficit de R$ 8 milhões por ano, a um desequilíbrio financeiro ainda maior.
"Nós seguimos a tabela SUS e somos remunerados somente depois de atender o paciente. Estamos pagando os salários dos nossos médicos com três meses de atraso e a situação pode piorar", disse ele.
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