SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O aumento da violência no centro de São Paulo virou uma barreira para crianças que moram na região conseguirem estudar. Isso porque alguns motoristas de transporte escolar deixaram de atender ruas próximas à cracolândia após casos de ameaça, furto e vandalismo.
Os profissionais também se queixam do fechamento das vias pelos usuários de drogas.
A situação foi relatada à reportagem pelos pais de alguns dos estudantes prejudicados, que pediram para não terem seus nomes divulgados por temerem represálias.
O presidente da União Geral do Transporte Escolar em São Paulo, Anderson Malafaia, confirmou o problema. "Alguns veículos escolares que transitam pela região da cracolândia estão com receio que algo aconteça a eles e principalmente às crianças do transporte", disse.
O pai de um aluno disse que o motorista da van deixou de desembarcar seu filho na porta de seu prédio, na Santa Ifigênia, bairro onde atualmente está a principal aglomeração da cracolândia. Ainda segundo ele, isso teria ocorrido após um grupo de usuários ameaçarem quebrar o veículo, mesmo com estudantes dentro.
Com medo, o motorista parou de atender a região. Agora, o pai da criança se vê obrigado a buscar o filho em outro endereço, na avenida Rio Branco, a três quadras de sua residência.
Uma outra moradora da região afirmou ter notado que o veículo de transporte escolar deixou de atender a rua Guaianases, um dos pontos de concentração de dependentes químicos.
Com isso, um estudante que é vizinho dela e os pais da criança caminham diariamente até a avenida Rio Branco para conseguir embarcar na van. A situação se repete no horário de retorno da escola.
Segundo Anderson, os motoristas dizem que os usuários estão mais agressivos e que eles começaram a atacar as vans escolares que passam em meio ao fluxo, como é chamada a concentração de dependentes químicos.
Ele diz ainda ter recebido mais de dez reclamações sobre o problema apenas em março. Em um dos casos, os ladrões teriam levado o celular de uma condutora que estava com os vidros abertos.
Anderson disse que os usuários também tentaram furtar objetos das mãos das crianças.
"Eles [os motoristas] não quiseram sequer fazer boletim de ocorrência, pois tem receio de que os traficantes da região possam fazer algo contra eles e os alunos", acrescentou.
Na tentativa de contornar o problema, a União Geral do Transporte Escolar em São Paulo tem orientado os motoristas a transitarem com os vidros fechados.
Procurada, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo lamentou a situação do bairro e disse não ter recebido nenhuma notificação sobre o transportes dos estudantes da rede estadual. Mas afirmou que vai investigar a situação.
Já a Secretária municipal de Educação disse que os pais que estiverem passando por problemas com o transporte escolar podem realizar denúncias por meio da Ouvidoria do município, do Portal 156 e diretamente nas Diretorias Regionais de Ensino.
A pasta disse ainda que como não foi informada do nome dos alunos prejudicados e em quais escolas eles estudam, não pôde tomar providências para resolver o problema.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do estado afirmou que vem adotando uma série de medidas que têm o objetivo de aumentar a segurança na região central, como uma plataforma que traz um diagnóstico completo das cenas abertas de uso de entorpecentes, com os dados atualizados todas as terças-feiras.
A pasta também disse que uma equipe da Polícia Civil vai apurar os fatos.
Já a Secretaria Municipal de Segurança Urbana, responsável pela Guarda Civil Metropolitana, afirmou que adotou uma série de medidas para a melhoria da segurança da região central, entre elas, a intensificação do patrulhamento comunitário e preventivo, com a ampliação do número de viaturas e motos em pontos estratégicos, com mais de 1.200 guardas.
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