RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A Secretaria da Saúde do estado do Rio de Janeiro declarou, nesta quarta-feira (26), que para salvar a vida da passista Alessandra dos Santos Silva, 35, foi necessária a retirada do útero, uma transfusão sanguínea e altas doses de aminas vasoativas. Segundo a pasta, o medicamento usado para conter hemorragia pode ter causado a necrose no braço esquerdo da paciente, que foi amputado.
Os procedimentos foram realizados, segundo a secretaria da gestão Cláudio Castro (PL), no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Alessandra foi internada na unidade de saúde em 3 fevereiro para a retirada de miomas, mas acabou com o útero removido. E, em seguida, teve parte do braço esquerdo amputada.
"Um dos possíveis efeitos adversos das aminas vasoativas é a oclusão vaso arterial, que leva à redução do fluxo sanguíneo, podendo levar à necrose das extremidades do corpo", diz a nota. À reportagem Alessandra disse que a família dela não foi informada sobre os riscos dos medicamentos usados.
Após complicações no Hospital da Mulher, ela foi transferida no dia 6 de fevereiro para o Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio Castro, na zona sul do Rio. Quatro dias após a transferência, a unidade informou aos parentes de Alessandra que o braço esquerdo dela havia necrosado e que o problema poderia se alastrar. A família, então, autorizou a amputação do braço da passista.
A Polícia Civil investiga se houve negligência ou imperícia. A Fundação Saúde, ligada ao governo do estado e que faz a gestão das duas unidades de saúde, abriu sindicância para apurar a conduta médica e administrativa nos hospitais.
Ainda no Heloneida Studart, Alessandra entrou em coma após a cirurgia no útero. Durante uma visita, a família notou que ela estava com as pontas dos dedos escurecidas, além de braços e pernas enfaixados.
"Eu não tenho dúvidas de que eles cometerem uma sequência de erros enquanto eu estava no Hospital da Mulher. Não foi à toa que eles omitiram o meu real estado de saúde para minha família quando disseram que eu estava com quadro estável. Além disso, quando minha mãe perguntou o motivo de eu estar enfaixada, responderam que era porque eu estava com frio", afirmou.
Nesta terça (25), ela esteve no Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro do Rio, para consulta de revisão e retirada dos pontos. Esta foi a última unidade por onde Alessandra passou. Lá ela permaneceu por um mês, de 4 de março a 4 de abril, para tratar de uma infecção na barriga, segundo disse, resultado do primeiro atendimento no hospital da Baixada. "Agora foi tudo tranquilo, estou bem, graças a Deus. Mas estou muito abalada, entristecida", disse.
O caso é investigado pela delegacia de São João de Meriti. De acordo com o delegado Bruno Enrique Menezes, o médico responsável pela cirurgia no útero da passista disse, em depoimento nesta terça, que o órgão da paciente precisou ser totalmente retirado por causa de uma hemorragia. O cirurgião Gustavo Machado, do Heloneida Studart, disse ainda que a transferência se deu por causa de um agravamento na parte vascular ocorrido no pós-operatório.
Também foram ouvidos nesta terça o ginecologista e um outro médico do Centro de Terapia Intensiva da unidade de saúde. Outros profissionais do Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro devem ser ouvidos entre esta quinta (27) e sexta-feira (28), segundo o delegado.
Bruno Enrique Menezes disse que já recebeu o prontuário médico da unidade de Cardiologia que, assim como o do Hospital da Mulher, será encaminhado ao Instituto Médico-Legal para análise.
A defesa de Alessandra afirmou que vai entrar com uma ação de reparação civil contra o estado. A passista da Acadêmicos do Grande Rio planejava engravidar e afirma ter tido o sonho interrompido por erro médico. Alessandra trabalhava como trancista e implantista e, agora, diz que não sabe o que fazer daqui para frente. "Eu não tenho outro meio de renda, não sei o que será da minha vida", afirmou.
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