SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um editorial da revista The Lancet Regional Health Europe afirma que é necessário melhorar a atenção ao diabetes tipo 1, especialmente em adultos. A condição em muitos casos é associada a crianças, mas estudos já demonstraram que há uma alta prevalência do distúrbio também nos mais velhos em todo o mundo.

O diabetes tipo 1 é caracterizado pela deficiência na produção de insulina diante de um processo em que "o sistema imunológico combate as células do pâncreas que produzem insulina", explica o médico endocrinologista André Vianna, coordenador do departamento de educação em diabetes e campanha da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).

Em contrapartida, o tipo 2 é aquele em que o organismo não consegue aproveitar a insulina produzida pelo organismo. "A pessoa até produz a insulina, mas ela não funciona de forma adequada, porque tem uma resistência", continua Vianna.

O número de casos de diabetes tipo 1 é menor. Segundo o Ministério da Saúde, do total de pacientes com diabetes no Brasil, de 5% a 10% sofrem com essa tipologia. E em muitos casos o diabetes tipo 1 é associado a crianças e adolescentes -no passado foi até chamado de diabetes juvenil.

Por isso que, segundo os autores do editorial da The Lancet, as ações associadas à doença, como diagnóstico e tratamento, são principalmente voltadas aos mais jovens. E é nesse ponto que reside o problema, afirmam.

Artigo publicado em outubro de 2022, por exemplo, concluiu que, em 2021, 8,4 milhões de pessoas viviam com diabetes tipo 1 ao redor do mundo. Dessas, 64% tinham entre 20 e 59 anos, enquanto 19% já estavam com mais de 60 anos. Crianças e adolescentes contabilizavam 18% do total.

Mas, como existe a ideia de que a doença é mais comum em jovens, a chance de algum adulto ser diagnosticado de forma incorreta é alta. "Estima-se que até 40% dos adultos com mais de 30 anos com diabetes tipo 1 foram diagnosticados erroneamente com diabetes tipo 2", informa o editoral da Lancet, fazendo referência a uma pesquisa publicada em outubro de 2021.

A expectativa de vida de alguém com diabetes tipo 1 de diabetes é menor, comparada à do tipo 2. A primeira tipologia retira cerca de oito anos da vida do paciente, enquanto a segunda reduz em três anos. Por isso também que o editorial defende uma melhor atenção clínica ao problema, além de mais pesquisas sobre o assunto.

"A agenda global, que é predominantemente focada na prevenção e no tratamento do diabetes tipo 2 em adultos, deve ser expandido para incluir diabetes tipo 1, que tem seus próprios desafios, principalmente o seu diagnóstico e o posterior tratamento adequado", escrevem os autores.

O ponto é reiterado por Levimar Araújo, presidente do departamento de diabetes mellitus da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia). "Temos um percentual [do diabetes tipo 1] que aparece em adultos, e isso é confundido."

A realização de exames pode evitar esse tipo de problema. Um deles é o teste dos autoanticorpos, "que podem demonstrar que aquele paciente tem o tipo 1 do adulto e não o 2", diz Araújo. Existe outro exame: a medição de peptídeo C. Por meio dele é possível observar a quantidade de insulina ainda produzida pela pessoa. Se a quantidade estiver baixa, é um indício de que se trata de diabetes tipo 1.

No entanto, ainda há problemas no acesso a esses procedimentos. "São exames um pouco mais caros", resume Vianna.

Com o diagnóstico errado, o tratamento também não acaba sendo o adequado. Enquanto no diabetes tipo 2 alguns medicamentos colaboram para o quadro do paciente, o tipo 1 requer necessariamente a reposição de insulina.

Em alguns casos, os remédios até podem aparentar que funcionam para um paciente com diabetes tipo 1, mas o efeito é passageiro. "No início ele vai ter um controle até adequado, mas, com o passar do tempo, ele vai exaurir essas células [de produção da insulina] até mais rapidamente", afirma Araújo.

Uma explicação para a alta incidência de diabetes tipo 1 em adultos pode ter a ver com o aumento da expectativa de vida dos pacientes.

De acordo com um relatório publicado em 2022 pela Federação Internacional para o Diabetes (IDF, na sigla em inglês), "devido a melhorias constantes nos cuidados médicos e tecnologia, existem agora milhões de adultos vivendo com diabetes tipo 1 que foram diagnosticados quando eram crianças".

O documento da IDF, contudo, chama atenção para outro dado: os novos diagnósticos da doença em adultos. As estimativas apontam que, de todos os novos casos detectados em 2022, 62% eram em pessoas com mais de 20 anos. "O início do diabetes tipo 1 em adultos não é incomum", resumem os autores do relatório.

DIABETES NO BRASIL

O mesmo levantamento da IDF estimou que o Brasil tinha mais de 588 mil pessoas com diabetes tipo 1 em 2022. Desses, 68% eram de adultos com idade entre 20 e 59 anos. Somente Estados Unidos e Índia tinham um número maior absoluto de diagnósticos do distúrbio.

Em casos totais, o que inclui o diabetes tipo 2, estima-se que mais de 15 milhões de pessoas conviviam com a doença no Brasil em 2021, indica outro relatório da IDF. Os cálculos apontam que, em 2045, esse número deve subir para cerca de 23 milhões.


Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!