SÃO LEOPOLDO, RS (FOLHAPRESS) - Poucos dias após a passagem de um ciclone extratropical que matou ao menos 14 pessoas, a região metropolitana de Porto Alegre enfrenta um novo problema: as cheias de rios, especialmente o dos Sinos, que banha São Leopoldo.

Depois de um volume de precipitação que em algumas localidades superou em duas vezes a média esperada para junho, as cidades à margem do Sinos sofrem para dar vazão à água da chuva, que deixou ruas alagadas.

Desde a tarde de sábado (17), moradores de bairros como o Feitoria observaram com preocupação bueiros transbordando e calcularam hora a hora a velocidade com que a água subia.

O Parque Imperatriz Leopoldina, também banhado pelo Sinos, ficou completamente submerso.

Na manhã desta segunda (19), marcações feitas com giz no muro das casas indicavam que o nível do rio chegou a subir sete centímetros por hora, uma velocidade alta embora pouco perceptível sem as marcações. Por volta do meio-dia, o índice havia desacelerado para três centímetros por hora até parar de subir momentaneamente às 13h.

Ainda no sábado, Dilamar Lemos, 49, pegou o barco de um amigo e começou a percorrer as ruas do Feitoria em busca de amigos e parentes que necessitassem tirar "móveis, animais de estimação ou gente teimosa" de dentro das casas com a ajuda da embarcação.

"Só parei no domingo à tarde. Passou dois dias inteiros subindo [o nível da água]. Tem gente que insiste em ficar em casa, mas não tem o que fazer nessa hora. É sair e esperar baixar para consertar o estrago", diz o morador.

Um dos teimosos era um homem de 45 anos que preferiu não se identificar. Morador do bairro há cinco anos, ele relutou em esvaziar a casa e deixar o imóvel até que foi tarde demais. Teve de sair de casa às pressas na madrugada de domingo dirigindo uma Kombi. De dentro do veículo, a cerca de 200 metros de casa, ele observava o imóvel submerso até as janelas e esperava o momento de retornar para conferir o estrago.

Embora contassem com energia elétrica, alguns moradores do Feitoria desligaram os disjuntores de casa para evitar acidentes. A primeira das até aqui 14 mortes causadas pelo ciclone foi a de um morador do bairro Campina, em São Leopoldo. Ele foi eletrocutado.

Segundo moradores, a cheia só é comparável à que ocorreu há dez anos, quando praticamente todas as casas da região ficaram debaixo d'água. De acordo com a Companhia Municipal de Saneamento de Novo Hamburgo (RS), na ocasião o nível do Sinos chegou a 8,22 metros. Na manhã desta segunda (19), o nível era 8,02 metros.

Enquanto isso, no Ginásio Municipal Celso Morbach, poucas famílias permaneciam alojadas. A maior parte delas aproveitou o dia ensolarado para se encaminhar com donativos para casas de parentes e amigos, com a ajuda de caminhões do Exército.

O local se esvaziava de pessoas enquanto se enchia de sacolas de doações, separadas nas arquibancadas em categorias como higiene pessoal, cobertas e roupas separadas por gênero e idade.

Dinorá Fernandes, 52, abrigada no local desde a madrugada de sexta (16) em companhia da filha e de dois netos, havia sido aconselhada por vizinhos a ainda não retornar para a ocupação em que vivia, na comunidade de Chácara dos Leões, no bairro Vila Bras.

"Acordei de madrugada com água saindo do banheiro. Abri a porta e estava na minha cintura. Foi o tempo de arranjarmos uma porta, dois pneus e colocar as duas crianças em cima para arrastar para fora de casa", diz.

Conforme a Defesa Civil, às 16h desta segunda, 3,221 pessoas estavam desabrigadas (em abrigos públicos) e 4.328 mil desalojadas (retiradas de casa, mas hospedadas em casas de outras pessoas) pelo Rio Grande do Sul. Mais de 2,1 milhões de pessoas foram afetadas pela passagem do ciclone.

Na tarde desta segunda-feira, houve uma boa notícia, um homem que era considerado desaparecido por ter tido a residência destruída e estar incomunicável foi encontrado em Caraá, no litoral norte. Ele estava abrigado na casa de um parente, mas não conseguiu avisar familiares.


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