SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Mais de 40 anos se passaram desde o início da disputa pela área do Parque Municipal Bexiga, que seria construído no entorno do Teatro Oficina, na região central de São Paulo. O dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, maior defensor da ideia do parque, morreu aos 86 nesta quinta-feira (6) sem ver um desfecho para essa história.

Ao lado do teatro e do Corredor Leste-Oeste, o terreno de 11.000 m² é de propriedade do Grupo Silvio Santos, que pretendia construir ali três prédios de até 100 metros de altura. O projeto previa mil apartamentos e mil vagas de garagem.

Especialistas contratados pelo teatro dizem que obra afetaria a atividade artística. Projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi em 1992 e inaugurado no ano seguinte, o Oficina tem uma grande parede de vidro nos fundos voltada para o terreno. O teatro é tombado desde 2010 pelo patrimônio histórico em grau municipal, estadual e federal.

Segundo estudos feitos há cerca de três anos pela arquiteta Marília Gallmeister, a construção dos condomínios deixaria o imóvel com apenas apenas duas horas de luz natural por dia.

PROJETO

Um estudo preliminar para implantação do parque chegou a prever a abertura do córrego Bexiga, que está a quatro metros de profundidade, além da implantação de uma arena ao ar livre que aproveitaria o declive natural do terreno e a instalação de passarelas.

Zé Celso chegou muito perto de ver o parque ser construído. Em 2020, o projeto de lei que criava o parque foi aprovado na Câmara Municipal por unanimidade. Poucos dias depois, foi vetado pela gestão Bruno Covas, que disse ter visto problemas técnicos no texto.

A prefeitura avaliou que, se fosse sancionado, o texto impediria aplicar o mecanismo de Transferência do Direito de Construir, que serviria como compensação aos donos do terreno. O Executivo tinha oferecido, em troca do parque, certificados que liberariam a construção de prédios acima do permitido em outras áreas da cidade, e que as empresas podem vender no mercado imobiliário.

Esse mecanismo foi usado, por exemplo, para viabilizar o Parque Augusta, também na região central de São Paulo. Interessadas em construir no terreno, as empreiteiras Cyrela e Setin conseguiriam até R$ 95 milhões de lucro ao doar o terreno do Augusta para o poder público e ficar com os créditos de potencial construtivo, mostrou a Folha de S.Paulo à época.

ENCONTRO COM SILVIO SANTOS

Em seu primeiro ano como prefeito da capital, João Doria (então no PSDB, hoje sem partido) chegou a mediar um encontro entre Zé Celso e Silvio Santos para tratar do imbróglio. A conversa foi gravada por uma equipe do dramaturgo, o que acabou desagradando ao dono do SBT.

O vídeo, publicado pela coluna Mônica Bergamo à época, mostra que Silvio Santos faz várias brincadeiras com o dramaturgo. Em certo momento, após arquitetas apresentarem ao projeto do parque, o apresentador diz que o terreno "tem um dono e esse dono tem que fazer aquilo que ele deseja". O encontro terminou sem acordo entre os dois.

DISCUSSÃO

Atualmente, o projeto do parque voltou a ser discutido na Câmara Municipal e na prefeitura. Após ser vetado em 2020, no ano seguinte o então vereador Eduardo Suplicy (PT) apresentou um novo projeto de lei que pede a criação do parque. O projeto está tramitando no Legislativo.

Em paralelo, em agosto do ano passado a prefeitura criou um grupo de trabalho que estuda a implantação do parque, com representantes da sociedade civil e das secretarias municipais de Verde e Meio Ambiente, Cultura, Urbanismo e Licenciamento e da empresa SP Urbanismo.


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