SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O prefeito Ricardo Nunes (MDB) decidiu exonerar o secretário-executivo de Mudanças Climáticas da cidade de São Paulo, Antonio Fernando Pinheiro Pedro.

A decisão foi tomada durante reunião entre os dois na noite desta quinta-feira (13). Pinheiro Pedro estava pressionado no cargo depois de dizer que o planeta "se salva sozinho" do aquecimento global e criticar o consenso científico em torno do tema.

As declarações sobre a crise climática foram consideradas negacionistas por especialistas e políticos da oposição.

"O planeta não será salvo por nós. Ninguém salva o planeta Terra, geralmente ele se salva sozinho. Ele o faz há 4,3 bilhões de anos. E muda o clima em todo esse período", afirmou o então secretário-executivo, em um evento da OAB-SP (Ordem dos Advogados) em junho.

"Nós somos parte do problema para a vida na Terra neste momento, mas nossa solução é muito pequena. Os fatores são de ordem geológica, cósmica e solar", prosseguiu.

Ele disse ainda que o entendimento do tema seria um problema porque "ciência não é consenso".

Em nota na noite desta quinta, a Prefeitura de São Paulo disse que a exoneração acontece a pedido de Pinheiro Pedro.

Tamires Carla de Oliveira, atual chefe de gabinete da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, ocupará o cargo interinamente.

A exoneração será publicada na edição desta sexta-feira (14) do Diário Oficial do Município.

Procurado para comentar a demissão do secretário, Nunes não se manifestou até a publicação desta reportagem.

Em uma longa nota para justificar sua demissão, Pinheiro Pedro citou trabalhos realizados pela pasta municipal do Clima, com ele à frente, como a ampliação da cobertura vegetal da cidade de São Paulo, de 48% para 54%, em dois anos.

"Estamos em vias de entregar uma frota de quase 2.000 ônibus elétricos, executando o maior programa de descarbonização do transporte público no continente", afirmou.

No texto, disse ter sido surpreendido pela divulgação de uma gravação, "montada fora do contexto, com objetivo difamatório, que busca extrair das declarações feitas conclusões absurdas".

O evento da OAB-SP, com as falas, está disponível integralmente no canal da entidade no YouTube.

"Com efeito, as afirmações em nada se confundem com nossos esforços humanos de sobrevivência e manutenção das condições de clima e temperatura, que permitam resiliência e interação ecossistêmica", afirmou.

"O fato de declarar que o planeta Terra passa por ciclos há quatro bilhões de anos e, por óbvio, sempre se 'salvou' sozinho, em nada se confunde com os esforços da humanidade para sobreviver e manter condições de clima e interação ecossistêmica. Há uma sutileza nisso tudo. Nós estamos tentando melhorar nossa resiliência, se falharmos, o planeta seguirá procedendo a seus ciclos, com ou sem nós", disse.

Na quarta-feira (12), Pinheiro Pedro, que é advogado, reiterou as posições expressadas no evento da OAB-SP em junho e desacreditou o trabalho do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), durante apresentação do segundo relatório do PlanClima SP (Plano de Ação Climática do Município de São Paulo).

"Em se tratando de um painel científico vinculado a um tratado internacional, consensos são obrigados a surgir", afirmou. "Isso é muito importante ser entendido, porque tem muita gente que hoje está elevando a questão climática a uma visão religiosa. É uma pobreza que a gente precisa evitar na cidade de São Paulo."

O consenso científico no IPCC é construído com a leitura de milhares de estudos que dão origem a relatórios.

O agora ex-secretário, fez parte da equipe de transição do governo Jair Bolsonaro (PL) e ajudou a elaborar a política adotada por Ricardo Salles (PL-SP) à frente do MMA (Ministério do Meio Ambiente).

Salles, atualmente deputado federal, era um dos possíveis adversários na eleição do ano que vem, quando Nunes vai tentar se manter no cargo. Ele desistiu da disputa recentemente.

Em documentos do grupo de transição do governo Bolsonaro, Pinheiro Pedro defendeu a desidratação do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), um dos principais órgãos consultivos para a área.

"Inchado e com uma composição de natureza política, o Conama termina por atuar emocionalmente, sem a devida técnica, sujeitando-se a interferências de ordem ideológica e corporativista pouco afetas [sic] à política de Estado", disse a nota.

Na justificativa pela sua demissão na prefeitura, ele afirmou ter sido vítima de "crime de difamação".

"Tenho quatro décadas de trabalhos dignos desenvolvidos em prol do meio ambiente e da construção da própria legislação ambiental e do clima. Os loteadores ilegais, o crime organizado, os lacradores, os levianos, foram o alvo de nossa gestão. Espero que com minha saída não vençam."


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