SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A decisão da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de proibir a importação de flor de maconha para fins medicinais pode afetar até 5.000 pacientes no país que fazem o uso da planta em busca de alívio de doenças crônicas, como epilepsia e fibromialgia.
A estimativa foi realizada por empresas que trabalham na importação de Cannabis in natura. Só a FlowerMed, que divulgou a estimativa nesta quinta-feira (20), atende a 2.600 pacientes que importavam a planta. Agora, defensores do uso da flor em caráter medicinal estão preocupados que a decisão afete a saúde de pacientes que já apresentavam melhoras após o uso.
A agência diz que entre os motivos da proibição estão o alto grau de risco de desvio para fins ilícitos e a vigência dos tratados internacionais de controle de drogas dos quais o Brasil é signatário. A Anvisa afirma ainda que a combustão e a inalação não são formas farmacêuticas e nem vias de administração do produto destinado ao tratamento de saúde.
Porém, segundo Caroline Heinz, CEO da FlowerMed, a decisão da Anvisa foi 100% irresponsável. "Deveriam regular o que não está funcionando, e não proibir." Heinz afirma ser comum que pacientes usem a flor combinada do óleo, que segue permitido pela Anvisa, enquanto outros recorrem apenas a forma vaporizada.
Há casos, cita Heinz, de pacientes que não sentem efeito do óleo e, por isso, procuraram e encontraram solução para dores na flor da maconha medicinal. "Com a forma inalada é possível ter a absorção dos canabinoides e é imediata", explica ela.
"A pessoa que está [em crise] não vai esperar os 40 minutos para o óleo fazer efeito. O óleo, apesar da perda de até 45% dos canabinoides, fica no sistema da pessoa por seis horas, diferente da vaporização. Por isso, muitos médicos prescrevem o uso de forma combinada."
"Estamos recebendo mensagens de pacientes desesperados, as pessoas não sabem o que fazer", diz ela.
A CEO da Flower Med diz ainda que a cânabis medicinal vem sendo difundida e regulamentada no Brasil. "Com essa decisão, a Anvisa está tirando o papel de reguladora e joga [a decisão] para o Legislativo", afirma ela. "Todo mundo vai ter que entrar na Justiça para ter o direito ao tratamento?"
Luiza Helena Paiva Dias, 66, foi diagnosticada com fibromialgia há seis anos. Ela experimentou o óleo à base de canabidiol, porém não surtiu efeito. Neste ano, com supervisão médica, decidiu experimentar a flor de maconha medicinal a fim de melhorar as fortes dores decorrentes da doença reumatológica que afeta sua musculatura.
Com a notícia da proibição da importação da flor de maconha medicinal, ela afirma que está assustada. "Agora que eu estava tendo uma melhorada boa foi proibido", lamenta ela, que calcula que teve uma melhora de 80% nas dores depois que passou a usar a flor.
Antes, ela convivia diariamente com dor e precisava combinar remédios que cessassem suas dores com antidepressivos. Hoje, diz que usa a flor a cada dois dias e, apesar de ainda sentir dor, ela é menos intensa e constante.
"Não gostaria de parar de usar", afirma ela, que relata que no início teve dificuldade de entender que a flor de maconha medicinal se tratava de um tratamento e não de uma droga. "Sou evangélica, até colocar na cabeça que não é uma droga, é difícil. Comecei a estudar, ler, e vi os benefícios", garante ela.
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