FORTALEZA, CE (FOLHAPRESS) - O cortador de cana-de-açúcar José Cristóvão Rodrigues, 39, saiu de Leme, no interior paulista, com destino ao Ceará para visitar a família em Pedra Branca, a 232 quilômetros de Fortaleza. A viagem no início de junho, que duraria três dias, porém, só terminou quase dois meses depois e foi marcada por uma alimentação baseada em maracujá, jerimum e mel e que incluiu também peixe estragado e água contaminada.
Durante a viagem, o trabalhador rural começou a apresentar confusão mental, segundo seus familiares, o que fez com que descesse em outro destino no dia 5 do mês passado e desaparecesse.
Irmã de Rodrigues, Antoniclé Rodrigues disse que, ao perceberem que ele apresentava episódios de mania de perseguição no percurso ao falar por telefone com a família, conseguiram conversar com o motorista do ônibus e pediram para que ele ficasse de olho no trabalhador rural.
"Ele insistia que estava sendo perseguido e que queriam matá-lo", disse.
Rodrigues, porém, desceu do ônibus em Cruzeta, distrito de Pedra Branca, abandonou a sua bagagem e não foi mais visto.
"A última vez que falamos com meu irmão ele ainda estava na estrada a caminho de casa. Foi desesperador ir ao encontro dele na parada de ônibus e descobrir que ele tinha descido em outra localidade e desaparecido."
Preocupados com o paradeiro dele, a família iniciou as buscas. A polícia da região foi mobilizada e cães farejadores e até mesmo um helicóptero ajudaram na procura, sem sucesso. Até que uma pista surgiu 50 dias depois, quando ele decidiu pedir ajuda a um trabalhador rural para tentar entrar em contato com a família.
"Dia 24 minha irmã recebeu algumas mensagens [por rede social] de uma senhora da localidade de Jardins, no interior de Independência, vizinha a Pedra Branca, distante 30 quilômetros de onde ele desapareceu. A mulher nos enviou uma foto do RG do meu irmão, constatamos que era ele mesmo."
Após o contato, a família e a polícia foram ao encontro do agricultor, que foi encontrado abatido, com quase 20 quilos a menos, ainda muito confuso e necessitando de atendimento médico imediato.
"Quando o encontramos, ele ainda insistia que estava sendo perseguido e por isso estava se escondendo. Disse que para sobreviver consumiu maracujá do mato, jerimum e mel com casca da colmeia de abelhas selvagens nos dias em que ficou perdido na mata. Até peixe morto estragado comeu para não morrer, além de ter consumido muita água contaminada."
EM CASA
Rodrigues, que já recebeu alta do hospital, falou rapidamente com a Folha e disse que agora está seguro e não pretende voltar a São Paulo.
"Tive medo de morrer e ninguém me achar. As pessoas achavam que eu queria roubar, acho que por isso não me ajudaram antes. Eu sou trabalhador, só estou com a minha cabeça confusa. Agora estou melhor com a família", disse.
Ele afirmou ainda querer ficar com a família para se cuidar e que agora está "seguro".
Segundo a irmã, Rodrigues deve continuar amparado na cidade até que haja um diagnóstico correto sobre o seu estado de saúde.
O delegado titular de Pedra Branca, Fabiano Silva Azevedo, disse ter ficado emocionado quando Rodrigues foi encontrado depois de tantas buscas.
"Fiquei ansioso porque os dias se passavam e nada. Passou um mês e realmente começamos a pensar no pior. Até material genético recolhemos da família, caso ele fosse encontrado sem vida", disse.
Segundo os familiares, Rodrigues não pediu ajuda antes porque a todo momento dizia que estava "fugindo de uns caras" que queriam matá-lo.
" A gente acredita que ele só tomou a decisão de pedir ajuda quando se acalmou um pouco", afirmou a irmã.
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