SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com o retorno às aulas em vários locais do Brasil nesta segunda (31), surge novamente o debate sobre o impacto que acordar cedo demais tem nos estudantes.

Cientistas já investigam o assunto há anos. As principais evidências indicam que uma noite de sono mal dormida implica em uma menor presença nas aulas, causando problemas educacionais.

Um desses estudos mais recentes foi publicado em março deste ano na revista Nature Human Behaviour e concluiu que aulas antes das 9h prejudicam o sono dos estudantes. Os autores adotaram três métodos.

O primeiro foi acessar o nível de conexão ao wifi de um campus universitário para observar os índices de presença de 23 mil estudantes. Os cursos que começavam às 8h tinham cerca de 10% menos de acessos comparados as aulas com início às 9h. Ou seja, um indicativo da menor capacidade dos alunos acompanharem os turnos mais cedos.

O segundo experimento do estudo foi acompanhar 181 estudantes com aparelhos de avaliação do sono em seis semanas. Desses, cerca de um terço dormia até depois das 8h, horário que as aulas começavam. Além disso, metades deles não acordavam a tempo de acompanhar os cursos.

Além disso, os autores analisaram a duração dos sonos diurnos e noturnos. Como conclusão, as aulas que se iniciavam cedo tinham relação com um maior número de sonecas durante as aulas. Esses mesmos alunos também dormiam menos à noite.

Antes desse artigo mais recentes, outros já haviam investigado o tema. Em 2016, cientistas publicaram, na revista Sleep, os resultados de uma pesquisa sobre os efeitos cognitivos em jovens que dormiram só cinco horas durante uma semana. Para o estudo, 56 adolescentes saudáveis foram selecionados e divididos entre um grupo que teria restrição de sono e outro placebo.

No início, ambos os grupos dormiram nove horas por três noites. Depois, aqueles no segmento com a restrição tiveram noites de sono de cinco horas durante sete dias, enquanto os outros continuaram dormindo por nove horas. Por último, houve três noites de recuperação, com novamente todos os participantes dormindo por nove horas.

Os pesquisadores realizaram testes cognitivos três vezes por dia durante o período de estudo. Eles concluíram que o grupo que dormiu menos teve queda nas funções de memória e de atenção, além de ter um aumento de sonolência e diminuição do humor. Mesmo depois de duas noites bem dormidas, algumas das capacidades não haviam retornado para o padrão visto antes do experimento.

Uma revisão publicada em 2014 na revista Nature and Science of Sleep analisou os efeitos que poucas horas de sono têm em estudantes universitários. Os autores apontam que a transição da adolescência para a idade adulta é recorrentemente acompanhada de uma queda na qualidade do sono. Uma das razões disso acontecer é o ciclo circadiano, mecanismo do organismo que regula as diferenças nas atividades corporais entre dia e noite.

Esse ciclo não é considerado quando se define os horários das aulas, desconsiderando a peculiaridade desse público. A falta de uma higiene do sono, continuam os autores, também diminui a qualidade do descanso entre estudantes. O uso excessivo de aparelhos eletrônicos, como celulares, é muito comum entre jovens mesmo momentos antes do sono, prática não recomendada.

"Essa privação crônica do sono pode prejudicar o desempenho acadêmico, a regulação do humor e a segurança na condução [de veículos]", escrevem.

Tendo em vista a conclusão, os autores defendem a necessidade de haver mais estudos sobre o impacto que as irregularidades do sono têm nos estudantes. Também argumentam que instituições de ensino entendam melhor a realidade dos alunos e desenvolvam modelos melhor adaptados às suas realidades.


Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!