SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um homem de 53 anos que tem moradia própria, mas costuma passar algumas horas de seu dia na cracolândia, no centro de São Paulo, procurou a Polícia Civil na manhã de segunda (21) para registrar uma ocorrência de ameaça e lesão corporal que teria sofrido de agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana).
Segundo Jailson Antonio de Oliveira, a vítima da agressão, o caso ocorreu na noite da última quarta (16). Naquele dia, a reportagem acompanhou, a distância, parte de uma ação da GCM exatamente no local apontado pela vítima como endereço da abordagem, a rua do Triunfo na altura da rua dos Gusmões.
Em nota, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana, por meio do Comando Geral da Guarda Civil Metropolitana, afirmou que, ao tomar conhecimento do fato, acionou a Corregedoria da GCM para apurar o caso.
Disse, ainda, que a GCM não compactua com desvios de conduta, que toda denúncia é devidamente apurada e que Oliveira pode comparecer à Corregedoria da GCM para identificar os envolvidos.
Há 11 dias a Folha de S.Paulo publicou uma reportagem em que Jailson Antonio de Oliveira e outros entrevistados contam sobre o cotidiano de violações de direitos no fluxo, como é chamada a concentração de dependentes químicos da cracolândia. O homem, conhecido na região como Corintiano, contou ter visto a morte de perto quando, em 8 de julho, foi obrigado a seguir para uma área sob a ponte Governador Orestes Quércia, no Bom Retiro.
"A gente estava na rua dos Gusmões, de repente a polícia cercou. A Polícia Civil, a Militar e a GCM, e nos sequestraram. Sequestraram dizendo para sair e ir até a Prates, sob força. Bateram em mim, jogaram spray na minha cara", disse Oliveira à reportagem.
Em depoimento no 77° DP (Santa Cecília) nesta segunda, Oliveira relatou que deixava o fluxo pela rua do Triunfo quando foi abordado por um guarda da Iope (Inspetoria de Operações Especiais). Os agentes, sob responsabilidade da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), o teriam revistado e encontrado um cachimbo para uso de crack, além de uma quantia de R$ 32.
A abordagem teria ocorrido por volta das 18h30. Ainda de acordo com o depoimento de Oliveira à Polícia Civil, os guardas da GCM disseram que as entrevistas que ele costuma dar a veículos de comunicação não condizem com a verdade e que por esse motivo iriam "forjar [um flagrante]".
Conforme registrado no boletim de ocorrência, Oliveira disse aos investigadores que os GCMs passaram a procurar algo dentro da viatura na intenção de encontrar um objeto que pudesse incriminá-lo. Mas não encontraram nada e rasgaram os R$ 32, acrescentou Oliveira no BO.
No BO, Oliveira disse ainda que tomou um golpe conhecido como "paulistinha" na altura do joelho, que os guardas quebraram seu cachimbo e que ameaçaram levá-lo para a "cadeia" ou para o "inferno".
O delegado Antonio José Carvalho de Moraes então requisitou a realização de exame de corpo de delito pelo IML (Instituto Médico Legal) para detectar possíveis lesões. Já o BO foi enviado para o 3° DP (Campos Elíseos) para a investigação.
Oliveira esteve na delegacia acompanhado do advogado Flávio Campos e de um representante da ONG Teto, Trampo e Tratamento, que trabalha com redução de danos na cracolândia.
"Vou procurar o chefe da Guarda Civil Metropolitana para conversar sobre a situação no território", disse Campos. Ele citou casos de violência registrados na região nos últimos dias, como a morte de um porteiro durante um roubo e um tumulto que terminou com dois baleados.
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