SANTOS, SP (FOLHAPRESS) - Brasa, lama e fumaça dominam a comunidade Caminho São José, no Dique Vila Gilda, em Santos, palco de um incêndio que destruiu cerca de 250 casas de palafitas na noite desta segunda (4).
As causas do incêndio ainda são investigadas. A Prefeitura de Santos afirma que aguarda relatórios do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil.
O fogo teve início por volta das 21h. Por causa dos fortes ventos na região, os bombeiros tiveram dificuldade de controlar as chamas, e o incêndio perdurou até as 2h da madrugada desta terça (5). Ao menos 16 pessoas precisaram de atendimento médico -seis foram encaminhadas para a UPA (Unidade de Pronto-Atendimento).
No começo da tarde desta terça, desalojados tentavam resgatar o pouco que sobrou de suas casas, e crianças descalças procuravam pedaços de ferro para vender.
Enquanto escolhia roupas que chegaram via doação, Eliane dos Santos, 49, contava sobre a noite anterior, em que perdeu sua casa. "Já passei por isso com a minha mãe e agora de novo. Você fica sem nada, sem chão. É muita tristeza, mas ao menos estou com vida", disse.
Ela, que vivia sozinha, relata que, quando o incêndio começou a se alastrar pela comunidade, se desesperou e retirou eletrodomésticos e roupas de casa na tentativa de salvá-los. No meio da tragédia, porém, foi roubada.
"Levaram minha máquina de lavar roupas e até uma mesa", lamenta ela, que está na casa da irmã e vai procurar um novo local para morar. "Estou viva para batalhar e conquistar tudo de novo."
Jefferson Macario, 29, vivia na comunidade com sua cachorra havia sete anos. Quando viu o incêndio, correu para resgatar a companheira de quatro patas. "Não queria nem saber dos meus documentos", conta.
Junto de outros moradores da comunidade, ele entrou no mangue para pegar água e tentar apagar o fogo.
"Eu lutei e trabalhei para conquistar [a minha casa]", disse ele enquanto mostrava para a reportagem o pouco que sobrou da cama.
Stefanie Cristina, 23, e o marido limpavam a casa em que viviam, também quase toda destruída. O incêndio não atingiu a residência, mas, como ficava em uma rota de fuga, a população quebrou as paredes para conseguir passar. "Agradeço por estarmos vivos. O resto Deus nos ajuda para conquistar novamente."
Desalojados foram encaminhados ainda durante a noite para uma unidade escolar, onde realizaram um pré-cadastro e seguiram para um centro esportivo.
'CENA DE TERROR'
Poucas pessoas, porém, procuraram o local em busca de abrigo -a maioria optou por acolhimento de familiares.
A reportagem esteve no centro esportivo na tarde desta terça e apenas oito pessoas haviam passado a noite no local. Entre elas estavam Tatiana Soares da Silva, 39, e sua filha, que disseram que não tinham para onde ir.
Tatiana conta que estava dormindo quando o incêndio começou e acordou com os gritos das pessoas. Ela, assim como Eliane, afirma que teve eletrodomésticos roubados quando os retirou de casa.
"Foi um desespero, nunca imaginei que isso fosse acontecer. Parecia cena de terror", disse ela, já preocupada em retornar ao trabalho. "Se eu não trabalhar, não ganho. Tenho que batalhar para conseguir tudo de novo."
AJUDA
O município decretou estado de emergência. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o prefeito Rogério Santos (PSDB) afirmou que os desabrigados vão receber um auxílio emergência de R$ 1.200 para a compra de utensílios e objetos perdidos no incêndio e um auxílio-aluguel no valor de R$ 600.
A Defesa Civil do Estado de São Paulo afirma que vai distribuir 200 cestas básicas e 200 colchões para atender as famílias afetadas. A previsão é que a ajuda chegue ainda nesta terça.
O prefeito disse ainda que, em conversa com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), aprovou um projeto chamado Parque Palafitas, que visa a construção de 2.000 moradias na região do mangue afetada pelas chamas.
Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!