SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A USP (Universidade de São Paulo) ampliou, nas últimas duas décadas, o número de estudantes matriculados sem garantir o mesmo ritmo na contratação de professores. Assim, a proporção de docente por aluno diminuiu 28% no período.

Em 2002, a instituição tinha 0,07 educador para cada matriculado, em média. Em 2022, o número caiu para 0,05. Os dados foram obtidos pela Associação de Docentes a partir do anuário estatístico da universidade.

Em nota, a reitoria da USP diz realizar esforço para contratar novos profissionais. "No último ano, disponibilizamos 879 vagas para a contratação de professores, concedidas a partir das demandas apresentadas pelas próprias unidades", diz a nota. "Temos 641 vagas para preencher e 238 já foram preenchidas."

A situação é resultado da ampliação do número de alunos no início dos anos 2000, seguida por anos de crise financeira e, depois, da pandemia de Covid-19, que impediram novas contratações.

No intervalo, a quantidade de estudantes de graduação e pós-graduação passou de 70.563, em 2002, para 93.040, em 2022 (aumento de quase 32%). Já o número de docentes foi ampliado em apenas 5%, passando de 4.804 para 5.043.

Diante disso, algumas faculdades já tiveram que cancelar disciplinas obrigatórias por falta de professores, causando até mesmo o atraso de formaturas.

A situação se arrasta há anos, mas agora estudantes e parte dos professores decidiram cobrar agilidade nas contratações. Na última semana, alunos e professores de alguns departamentos, puxados pela FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), anunciaram greve.

A unidade de humanas é uma das repartições onde a falta de admissões teve efeitos mais graves. No período entre 2014 e 2022, o quadro docente foi reduzido de 478 para 396. É 0,03 professor por aluno.

Há quase um ano, a FFLCH recebeu 70 vagas para contratação de novos professores em seus cursos. Dessas, porém, apenas dez foram preenchidas. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o diretor da unidade, Paulo Martins, afirmou que vai realizar os demais concursos até o fim de seu mandato, em setembro de 2024.

Martins ainda criticou a greve, a qual chamou de "sem sentido", e disse que representantes do movimento estudantil usam "as mesmas armas da direita bolsonarista: ofendem e naturalizam o uso da força". Martins trocou xingamentos com alunos no último dia 18, quando salas de aula foram trancadas para impedir uma ocupação.

Em resposta, os centros acadêmicos da FFLCH disseram que Martins tenta deslegitimar a luta acadêmica e que o número de contratações proposto pela reitoria é insuficiente.

Somente no curso de letras, afirmam, são necessárias 114 contratações para que as disciplinas e habilitações funcionem minimamente, segundo levantamento da Associação de Docentes da USP.

Até 2014, a USP seguiu uma política de expansão de vagas e contratação de professores. A partir daquele ano, a universidade atingiu o ápice de uma crise financeira e parou de contratar novos docentes e servidores para equilibrar o caixa, já que a instituição gastava somente com a folha de pagamentos mais do que recebia do governo paulista.

Depois de uma série de medidas de contenção, a USP conseguiu equilibrar as contas e pretendia contratar novos professores em 2020, mas, com a pandemia, todas as contratações foram proibidas.

Eleito no fim de 2021 pela comunidade acadêmica, Carlos Gilberto Carlotti Júnior assumiu a reitoria da USP tendo como principais promessas a retomada das contratações e a recomposição dos salários. Ainda em 2022, o reitor anunciou a contratação de 879 profissionais, escalonadamente, até 2025.

No entanto, como o impacto da falta de professores têm prejudicado o ensino, os estudantes pressionam para as vagas serem liberadas imediatamente.

Segundo a reitoria, as contratações foram liberadas em três etapas, mas unidades em que a situação é mais problemática podem solicitar a antecipação dos concursos para o início do próximo ano, em 3 de fevereiro.


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