SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Fotos tiradas em hospital indicam que o torcedor do São Paulo Rafael dos Santos Tercilio Garcia, 32, que morreu durante as comemorações do título da Copa do Brasil nas imediações do estádio do Morumbi, na zona oeste de São Paulo, na noite de domingo (24), pode ter sido atingido na cabeça por uma "bean bag", um tipo de munição utilizada pela Polícia Militar em substituição às balas de borrachas.
A reportagem teve acesso a imagens dentro do hospital municipal do Campo Limpo, na zona sul, enquanto Garcia era atendido e que mostram um objeto semelhante a essa munição na cabeça do jovem.
A bean bag é um tipo de saco que encobre diversas esferas de metal.
Outra imagem mostra sacola semelhante a uma bean bag cheia de sangue e com as esferas de metal dentro. O objeto estava dentro de um saco plástico transparente, como se estivesse sendo preservado para perícia. Tal munição teria sido a que atingiu o torcedor.
Ao ser baleado, conforme documento assinado por um médico legista, Garcia, que era surdo, estava com um boné na cabeça, que foi perfurado.
Garcia foi encontrado desacordado por policiais militares logo após uma confusão nas imediações do estádio Cícero Pompeu de Toledo.
Policiais civis que participam das investigações declararam para a reportagem que não descartam nenhuma hipótese, como tiro vindo de arma de fogo ou munição tecnicamente menos letal, como a bean bag.
A reportagem questionou a Secretaria da Segurança Pública e a Polícia Militar sobre o uso de bean bag durante a dispersão dos torcedores, mas não houve resposta.
A irmã de Garcia, a comerciante Raisa Rochele, 33, encaminhou para a reportagem a declaração de óbito da vítima, que aponta traumatismo crânio-encefálico por disparo de arma de fogo. O documento foi assinado pelo médico do IML (Instituto Médico Legal) Douglas Alexandre Franca Bezerra.
"Queremos justiça. Meu irmão não era nenhum vagabundo, era trabalhador, pai de família, ótimo filho.
Os amigos amavam ele. Deixa um filho de oito anos. Ele amava esse time", disse Raisa.
A Ouvidoria da Polícia disse acompanhar o caso e que solicitou acesso aos laudos e possíveis câmeras.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública disse que as investigações estão em andamento, por meio de inquérito policial instaurado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, e que detalhes serão preservados para garantir autonomia ao trabalho policial, diz trecho do comunicado.
Procurada, a Secretaria Municipal da Saúde, responsável pelo hospital do Campo Limpo, não se pronunciou.
O CASO
Segundo o boletim de ocorrência, policiais militares estavam nas proximidades da avenida Jules Rimet com a rua Sérgio Paulo Freddi, entre os portões 6 e 7 do Morumbi, quando torcedores do São Paulo tentaram invadir a área de isolamento para acessar o estádio, onde o time disputava a final da Copa do Brasil com o Flamengo.
PMs conseguiram impedir o acesso, mas passaram a ser atingidos por diversos objetos arremessados pelos torcedores.
Segundo os policiais, foi necessário o uso de munição química e explosiva, além de cassetete.
Pouco depois, o torcedor foi encontrado caído desacordado no chão. Ele foi levado para o pronto-socorro do Campo Limpo por ambulância que estava no estádio, mas não resistiu aos ferimentos.
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