"Somos obrigados a aceitá-la", disse Charles Adison em uma das muitas escolas que foram convertidas em campos de refugiados improvisados na capital do Haiti, Porto Príncipe, falando sobre uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) desta semana que prevê a entrada de forças estrangeiras no país para ajudar a polícia a restaurar a ordem.

A ONU estima que cerca de 200 mil haitianos tenham sido deslocados em meio à escalada da violência, com gangues armadas realizando assassinatos indiscriminados, sequestros, estupros coletivos e queimando as casas das pessoas.

Há um ano, o governo não eleito do Haiti solicitou ajuda urgente de forças militares estrangeiras, mas foi somente em julho que o Quênia se tornou o primeiro país a propor a liderança dessa força e, na segunda-feira, ela foi autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU.

"Se eles fizerem o trabalho de acordo com o que dizem, pode ser muito bom para nós, poderemos voltar para casa", disse Neptune Dieudonne, que está em um acampamento improvisado no Rex Theatre, no centro da cidade.

Jean Remy Renald, abrigado em um acampamento na escola Colbert Lochard, disse que apoia a força se ela tiver um bom roteiro, mas foi cauteloso com a falta de transparência dos líderes do Haiti e com os abusos cometidos por missões anteriores da ONU.

"Quando os militares estão no país, eles estupram mulheres, brincam com nossa precariedade", disse ele. "Quando os militares vão embora, deixam muitas crianças para trás e nos transmitem cólera."

Uma missão da ONU entre 2004 e 2017 no Haiti deixou para trás um escândalo de abuso sexual e um surto de cólera que matou quase 10 mil pessoas.

Para Adison, a independência não é compatível com forças militares estrangeiras. "Mas, dada a situação atual, somos obrigados a aceitá-la. Devido à insegurança, somos obrigados a dormir nas ruas, não podemos viver."

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