SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O consumo de bebidas açucaradas teve um aumento de quase 16% (15,9%) de 1990 a 2018 em todo o mundo, passando de 2,4 porções por semana para 2,7, segundo um estudo global.
As taxas, porém, variam consideravelmente entre as diferentes regiões, sendo América Latina e Caribe (7,8) e África Subsaariana (6,6) as duas localidades com o maior consumo de bebidas açucaradas, enquanto a Ásia (0,7) tem a menor.
O estudo também revelou tendências demográficas, com os homens e jovens de 20 a 29 anos como os maiores consumidores de bebidas com açúcar no planeta. Já em relação ao local de residência (em áreas urbanas ou rurais), na África Subsaariana e na América Latina e Caribe os centros urbanos concentram o consumo, enquanto na África Central e no Norte da África o consumo é maior na zona rural.
Os dados da pesquisa Global Dietary Database, que recebeu apoio financeiro da Fundação Bill e Melinda Gates e da Associação Americana do Coração, foram publicados na última terça-feira (3) no periódico científico Nature Communications.
As bebidas açucaradas são classificadas como todas aquelas não alcoólicas em que há adição de açúcares livres --refrigerantes, sucos de caixinha, preparados com aroma artificial de frutas e outras substâncias. A OMS (Organização Mundial da Saúde) e a Opas (braço americano da OMS) recomendam a taxação de bebidas açucaradas como forma de reverter o aumento de doenças ligadas ao consumo destas bebidas, como diabetes tipo 2, obesidade, colesterol alto e esteatose hepática.
No entanto, apenas oito países da América Latina e Caribe, incluindo Chile e Peru, possuem legislações próprias para a tributação dessas bebidas.
Entre os países mais populosos, aqueles que apresentaram o maior consumo no período do estudo foram México (8,9 porções por semana), Etiópia (7,1), EUA (4,9) e Nigéria (4,9). No mesmo intervalo, o Brasil registrou queda de aproximadamente 40% no consumo de bebidas açucaradas (atingindo a marca de 4,4, em 2018), mas os estudiosos do tema no país relatam preocupação com o aumento do consumo principalmente entre crianças e adolescentes.
Estudos apontam que as bebidas açucaradas podem levar ao desenvolvimento de problemas de saúde, como doenças cardiovasculares, obesidade e câncer, além de cáries e doenças bucais. Estes alimentos em geral são pobres em nutrientes, mas contam com campanhas publicitárias fortes.
É principalmente preocupante o aumento do consumo de bebidas açucaradas nas populações jovens de países da África e de menor renda, segundo mostram os dados da pesquisa.
De acordo com os autores, o contraste observado entre os países mais ricos analisados, que tiveram uma estagnação do crescimento no consumo, e aqueles com PIB (produto interno bruto) menor, revela como o nível de desenvolvimento social e econômico está relacionado à ingestão de bebidas açucaradas.
Por fim, fazem um apelo para que medidas eficazes de redução do consumo de tais produtos, como taxação de bebidas e monitoramento do consumo por faixa etária e local de residência, sejam implementadas como políticas públicas em saúde.
"Muitos dos esforços globais e locais para reduzir o consumo foram soterrados pelo forte lobby da indústria, incluindo o desprezo pelas evidências produzidas até aqui e estudos científicos enviesados financiados pelas próprias indústrias. O consumo de bebidas adoçadas aumentou em 108 países em 28 anos, mas muitas das políticas implementadas ocorreram após 2017, e os seus impactos não puderam ser avaliados a curto prazo", dizem.
"Enquanto nossa pesquisa apontou que a América Latina e Caribe teve um aumento elevado no consumo, há diferenças regionais importantes que devem ser levadas em consideração para criar políticas públicas direcionadas em cada país", concluem.
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