SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Lembra do calorão que você vivenciou em agosto e, especialmente, em setembro deste ano? A crise climática gerada pela ação humana aumentou em até cem vezes a chance de um calor extremo como esse vivenciado por diversas partes do Brasil nos últimos dois meses, mostra novo estudo divulgado nesta terça-feira (10).

Sem o aquecimento global causado por humanos ?associado, essencialmente, à queima de combustíveis fósseis, mas também a ações como o desmatamento?, o calorão ocorrido no final do inverno e no começo da primavera no Brasil seria de 1,4°C a até 4,3°C menor.

A análise foi feita pelo WWA (World Weather Attribution), grupo de cientistas especializados na chamada ciência da atribuição, que estuda eventos climáticos. Os dados produzidos pela WWA não têm, inicialmente, revisão por pares. Porém, os modelos usados pela instituição para fazer a atribuição já foram avaliados e publicados em revistas científicas.

Ondas de calor extremo são um risco à saúde, podendo levar até mesmo à morte, especialmente em faixas da população mais vulneráveis, como idosos e crianças pequenas.

Os cientistas concentraram o estudo em um quadrante que se estende do litoral de São Paulo até o Paraguai, passando também por partes do Sul e do Centro-Oeste.

Como mostrou reportagem recente da Folha de S.Paulo, o inverno de 2023 foi especialmente quente, com a temperatura média mais alta já registrada em 10 das 25 capitais brasileiras em que é possível calcular o clima a partir de estações do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

Segundo os pesquisadores, apesar de o fenômeno El Niño poder ter influenciado os padrões climáticos, em comparação com a crise climática, a contribuição direta dele foi pequena para o calorão observado em partes do Brasil e também em países vizinhos da América do Sul, como o Paraguai.

Os modelos climáticos já apontam que extremos de calor como o observado se tornarão mais frequentes e mais quentes graças à crise climática. O estudo, que aponta o calorão como um evento que ocorre uma vez a cada 30 anos, estima que, com um aumento de temperatura de 2°C, um calor como o vivenciado se tornará outras cinco vezes mais provável e ainda de 1,1°C a 1,6°C mais quente do que o visto recentemente.

Quando falamos em aumento de temperatura, estamos nos referindo a um crescimento da média global em relação ao período pré-industrial (a média de 1850 a 1900). E, atualmente, a temperatura média global já subiu mais de 1,1°C, com grande participação nesse processo das emissões de gases-estufa por humanos.

Nesse momento, a humanidade caminha a passos firmes para ultrapassar os 1,5°C de aumento de temperatura. Esse é o aumento "preferível" colocado como objetivo pelo Acordo de Paris, do qual o Brasil é signatário, para evitar danos ainda mais profundos no planeta e para a vida humana cotidiana.

A análise do WWA aponta ainda as dificuldades de fazer estudos de mudança climática em diversas regiões do Brasil pela falta ou insuficiência de dados observacionais de longo prazo. Os pesquisadores apontam que a maior parte das bases de dados foram criadas só nas décadas de 1970 e 1980.


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