RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O ex-policial militar Élcio de Queiroz afirmou que agentes da Delegacia de Homicídio tentaram extorquir dinheiro do PM reformado Ronnie Lessa antes de os dois serem presos, em 2019, sob acusação de terem matado a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes. A declaração foi dada durante depoimento de Élcio à Justiça do Rio de Janeiro, nesta terça-feira (10).
Marielle e Anderson foram mortos a tiros na noite de 14 de março de 2018, no Estácio, centro do Rio. Um ano depois das mortes, Ronnie e Élcio foram presos; o primeiro, acusado de ter atirado contra a vereadora, e o segundo, de ter dirigido o carro usado no crime.
O caso Marielle, em investigação há cinco anos e meio, sofreu uma reviravolta no final de julho após Élcio fechar um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal e o Ministério Público do Rio. Na delação, ele confessou ter participado do crime e afirmou que Ronnie, de quem é amigo há 30 anos, foi quem matou a vereadora.
No depoimento desta terça, Élcio diz que ele e Ronnie souberam que estavam na mira das investigações da Delegacia de Homicídio antes mesmo de terem sido chamado para depor na especializada. O ex-policial afirmou que as informações foram passadas por policiais da própria delegacia e de outros órgãos da Polícia Civil.
Segundo Élcio, um agente da Delegacia de Homicídio tentou contato com Ronnie ao menos quatro vezes antes da prisão. Esse policial, referido apenas como "Marquinhos da DH", estaria tentando extorquir dinheiro de Ronnie.
Élcio afirma que já tinha pensado em fazer delação, mas disse que não confiava na Polícia Civil para isso. Os motivos que alegou para a desconfiança foram a tentativa de extorsão contra o amigo e os vazamentos frequentes da investigação.
O ex-PM diz que só fechou o acordo porque as investigações passaram a ser conduzidas pela Polícia Federal.
"Houve comentário de extorsão do Ronnie. Como vou confiar numa polícia que estava o todo tempo negociando com o Ronnie? Eu confio na PF", disse em depoimento.
Queiroz afirmou ainda que os agentes da Delegacia de Homicídio extorquiram dinheiro o ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, apontado como chefe de um grupo de matadores de aluguel e que foi morto em 2020, numa operação policial na Bahia.
Nóbrega chegou a prestar depoimento sobre o assassinato de Marielle, mas sua participação no caso foi descartada pelos investigadores da época. De acordo com as investigações atuais, o ex-capitão chegou a ser sondado por terceiros, ainda não identificados, para matar a vereadora, mas declinou com receio da repercussão que o caso teria.
Segundo o promotor do Ministério Público Fábio Vieira, que acompanhou o depoimento de Queiroz, a suposta tentativa de extorsão não é investigada dentro do processo da audiência. Ele, no entanto, não descartou a abertura de um inquérito para apurar o ocorrido.
"Isso não é objeto de julgamento dentro desse processo. Essa informação que surge hoje pode dar início a uma nova investigação", disse Vieira, que completou: "Nada está provado se alguém foi extorquido".
Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!