RIO DE JANEIRO, RJ E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Polícia Civil do Rio de Janeiro encontrou nesta quinta-feira (19) 8 das 21 metralhadoras de haviam sido furtadas do Arsenal de Guerra do Exército em Barueri, na Grande São Paulo. As armas estavam no bairro da Gardênia Azul, na zona oeste do Rio.
Foram recolhidas quatro metralhadoras .50 e quatro de calibre 7.62 por agentes da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes).
A apreensão foi confirmada também pelo Comando Militar Sudeste em entrevista coletiva nesta quinta. Segundo o órgão, o diretor do Arsenal de Guerra, tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, será exonerado do cargo.
Na entrevista, o general de Brigada Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do comando, afirmou, sem especificar números, que dezenas de militares, entre novatos e oficiais, receberam formulários de apuração militar.
Eles são investigados ao menos por falhas administrativa e têm até 72 horas para apresentarem defesa. Os militares temporários serão expulsos, e os de carreira, submetidos a conselhos de justificação ou disciplina. Possíveis civis envolvidos também poderão ser julgados pela Justiça Militar por se tratar de um crime dessa competência.
"É um episódio inaceitável", afirmou.
Ainda de acordo com o general, os furtos ocorreram entre 5 e 8 de setembro e houve troca de lacres e cadeados de onde ficam as armas para esconder o desvio.
Questionado se houve falha nas câmeras de segurança do quartel, como os armamentos foram levados ao estacionamento e retirados do local, o general não deu detalhes, dizendo que são informações sigilosas que fazem parte do inquérito civil militar.
Cerca de 160 militares continuam aquartelados em Barueri. Segundo o porta-voz, eles não estão presos, mas que seguem nessa situação porque podem ser requisitados para ações ou nas investigações. O oficial não disse até quando vai o aquartelamento.
Mais cedo nesta quinta-feira, a Folha de S.Paulo mostrou que o Exército havia identificado três militares suspeitos de participar do do furto das armas e que a Força investigava se o trio havia sido cooptado por facções criminosas para o extravio do armamento. Um grupo de 480 militares ficou aquartelado na sede do Arsenal durante a investigação.
O governador do RJ, Cláudio Castro (PL), parabenizou a polícia pela apreensão. "Quero parabenizar os policiais da nossa Delegacia de Repressão a Entorpecentes que, na tarde de hoje, encontraram 8 das 21 metralhadoras furtadas do Exército em Barueri, São Paulo. Quatro metralhadoras ponto 50 e outras 4 MAGs, calibre 7,62 foram interceptadas", declarou.
Imagens divulgadas pela polícia mostram policiais retirando o armamento da mala de um carro. Segundo o governador, o veículo era roubado. Não houve presos na apreensão.
Nas gravações, os agentes retiram o armamento do veículo sem a presença da perícia. Ainda não se sabe se a ação irá atrapalhar a possível identificação de digitais.
Mais informações serão dadas em uma coletiva de imprensa, na noite desta quinta, pelo delegado Marcus Amim. O policial é ex-titular da delegacia que realizou a apreensão e foi nomeado novo secretário da Polícia Civil nesta quinta.
A Gardênia Azul faz parte de uma narcomilícia, após união de milicianos dissidentes e de traficantes do Comando Vermelho.
Segundo a Polícia Civil, integrantes do crime organizado da comunidade foram os responsáveis pela morte de três médicos, na Barra da Tijuca. Eles teriam confundido um dos ortopedistas com um miliciano rival.
A chamada narcomilícia surgiu a partir de 2021, quando houve uma ruptura interna na milícia da região. Enfraquecido, o miliciano procurou apoio com traficantes da Cidade de Deus, na zona oeste, área de domínio do Comando Vermelho.
Uma aliança foi firmada, então, entre os ex-integrantes da milícia e o tráfico, gerando o que a polícia chama de narcomilícia na Gardênia, com a liderança tanto de milicianos locais quanto de traficantes do Comando Vermelho. Os traficantes têm os complexos da Penha e do Alemão como base principal.
O sumiço das 21 metralhadoras foi notado por militares do Arsenal de Guerra no último dia 10, quando era realizada uma inspeção.
Esse tipo de controle não é feito periodicamente na unidade militar e, segundo relatos à reportagem, só é realizado quando alguém precisa destrancar o armário em que as armas ficam guardadas para pegar parte do armamento.
Após abrir a reserva, o militar é obrigado a contar quantas armas permanecem guardadas, trancadas em cabides, e anotar os números em um arquivo interno da Força.
Quando o militar que fazia a contagem percebeu o sumiço das metralhadoras, informou ao superior hierárquico e então foi aberto o inquérito.
A primeira decisão do Exército foi manter aquartelados os 480 soldados e oficiais que integram o Arsenal de Guerra. Na última terça (17), 320 militares foram liberados pela Força.
O Comando Militar do Sudeste afirma que a situação da tropa passou de "estado de prontidão para sobreaviso, o que significa uma redução do efetivo da tropa aquartelada".
O comandante do Exército, general Tomás Paiva, disse à reportagem que a Força está empenhada em solucionar o caso. "Não vamos medir esforços para recuperar as armas e punir os responsáveis", afirmou.
Em tom semelhante, o general Achilles Furlan, chefe do DCT, disse que "o Exército não vai desistir de encontrar essas armas".
O Ministério Público Militar foi comunicado do sumiço das armas e solicitou informações sobre a investigação ao Exército. Os procuradores militares, porém, só devem participar do caso após a conclusão do inquérito conduzido pela Força.
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