O assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, manifestou, nesta terça-feira (31), preocupação com o papel da Organização das Nações Unidas (ONU) frente às guerras que vem assolando o mundo. Para ele, a ONU está enfraquecida diante de “um momento tão grave da humanidade”.
“Como pode as Nações Unidas estarem inertes, inermes, numa situação tão grave como a que nós estamos vivendo hoje? Eu posso falar um pouco pela minha idade, eu tenho praticamente 60 anos ligados à diplomacia, 82 quase de idade, eu raramente vi uma situação tão grave quanto esta no mundo. Mesmo na famosa crise dos mísseis de Cuba, em que realmente todos corremos riscos gravíssimos, acho que não havia uma disseminação do ódio e não havia uma polarização das mentes tão grave quanto há hoje”, disse o ex-chanceler brasileiro.
Segundo Amorim, o momento atual, com as guerras entre Israel e o Hamas e entre a Ucrânia e a Rússia, denota uma situação muito mais grave que a vivida na crise dos mísseis de Cuba.
“Eu acho que hoje nós vivemos uma situação muito mais grave, com uma multiplicidade de atores e com duas guerras que, de alguma maneira, se misturam. E ver a ONU enfraquecida é algo que realmente preocupa extremamente”, ressaltou.
Amorim fez palestra hoje na abertura do Fórum Brasil África 2023, evento organizado pelo Instituto Brasil África que termina nesta quarta-feira (1º), em São Paulo.
Em sua fala, Amorim destacou o esforço brasileiro por uma resolução humanitária para a guerra entre Israel e Hamas e considerou algo "heroico" essa tentativa de chegar a um acordo. “Hoje, nosso ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, está em Nova York fazendo uma tentativa, não digo quase desesperada, mas uma tentativa realmente heroica para ver se aprova uma resolução no Conselho de Segurança [da ONU] não só para defender todos os que sofrem na região – o povo de Gaza e os israelenses que sofreram com o ataque terrorista – mas também as Nações Unidas.”
Relações com a África
Celso Amorim disse ainda que, no próximo ano, o governo deverá dar maior atenção para suas relações com a África. “Eu diria que o ano que vem, em grande medida, será o ano da África na política externa brasileira. Neste ano foi necessário que o Brasil se reinserisse no mundo. Então, o presidente Lula esteve muito presente em eventos internacionais, de várias naturezas, também reconstituindo um pouco aqui a integração da América do Sul, a presença na América Latina, e essa visita simbólica a Angola. Mas eu tenho certeza de que no ano que vem haverá uma atenção redobrada [com o continente africano].”
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