SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - As questões do primeiro dia do Enem voltaram a abordar conteúdos sobre o período da ditadura militar no Brasil. O Enem ficou três anos sem trazer questões sobre esse período da história do país, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Até então, a ditadura havia sido tratada em todas as edições do exame desde 2009. Na prova deste domingo (5), ao menos duas questões abordaram diretamente o período.
Defensor da ditadura, Bolsonaro propôs que o Enem tratasse o golpe militar de 1964 como revolução, como revelou a Folha.
As questões também abordaram história da Palestina, migração de judeus para o Brasil, machismo, valorização da identidade indígena e racismo.
O exame também trouxe trechos de livros do pedagogo Paulo Freire e dos escritores Conceição Evaristo e Itamar Vieira Júnior. Outra questão trouxe a música 'Alegria, Alegria', de Caetano Veloso.
Professores avaliaram como positivo o retorno desse tipo de conteúdo à prova. "O Enem não tem mais buracos na história do Brasil, todos os períodos importantes da nossa história voltaram a ser cobrados", disse Giba Alvarez, diretor do cursinho da Poli.
Ele explica que, pela importância do Enem, os temas cobrados na prova se tornam mais valorizados para serem ensinados em sala de aula. "Quando os assuntos caem no Enem, eles são valorizados no currículo do ensino médio", disse.
Para Rodrigo Basilio, professor de história do Poliedro, a prova seguiu a tendência dos últimos anos, com uma abordagem menos conteudista e mais interpretativa.
"Muitas questões abordaram a desigualdade de gênero e o papel da mulher na história. Diversas questões também falaram sobre a importância de valorizar a cultura popular, com a ideia de pluralidade de cultura em oposição a uma ideia de cultura hegemônica, das elites", disse Basilio.
Os professores também destacaram a presença de temas ligados ao meio ambiente.
"Tivemos muitas questões vinculadas à questão ambiental, falando sobre mudanças climáticas, o aquecimento global, desmatamento na Amazônia, substancialmente também à grilagem de terra, além de questões sobre degradação do solo, modelo sustentável, sistema agroflorestal", diz o professor de geografia Althieres Lima, da Escola SEB Lafaiete.
Neste domingo (5), os estudantes responderam a 90 questões das provas de ciências humanas e linguagens. Eles também tiveram que fazer uma redação, que teve como tema "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil".
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Paulo Freire
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