SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem uma fila de 13,5 mil pedidos de poda ou remoção de árvores pendentes em toda cidade. Neste ano, menos da metade das solicitações pelo serviço foram finalizadas, ou 40,3%, entre janeiro e setembro.
Nos últimos cinco anos, a Prefeitura de São Paulo atendeu metade dos protocolos de poda e remoção de árvores registrados nos canais oficiais de comunicação. Em 2023, a gestão Nunes conclui 21 mil pedidos até o fim de setembro, ou 21,8% a menos do que os 26.991 pedidos atendidos no mesmo período de 2022.
O tamanho da fila reflete a espécie de bola de neve criada a partir da discrepância entre o ritmo com que os pedidos são protocolados e a capacidade da administração em atendê-los. As demandas sempre superaram a quantidade de serviços finalizados, mas essa diferença se acentuou a partir de agosto de 2022.
Segundo análise das solicitações registradas no canal 156 da prefeitura, em agosto do ano passado foram executadas 43,8% das solicitações. No mês seguinte, essa proporção caiu para 23,5%. O patamar mais baixo foi em março deste ano, quando 19% das solicitações foram atendidas.
Ao menos oito pessoas morreram e 4,2 milhões de domicílios ficaram no escuro após as chuvas e rajadas de vento de mais de 110 km/h que atingiram diferentes regiões do estado na ultima sexta-feira (3). Até a manhã desta quarta-feira (8), mais de 110 horas após a tempestade, cerca de 11 mil imóveis continuavam sem energia elétrica na região metropolitana, sendo 4.600 na capital.
Em entrevista coletiva nesta quarta, o presidente da Enel Distribuição SP, Max Xavier Lins, disse que 95% das ocorrências de falta de energia na sexta foram provocadas por quedas de árvore. Ele pediu a criação de um plano metropolitano para mapear e podar a vegetação urbana.
A empresa assinou recentemente um novo convênio com a Prefeitura de São Paulo para o serviço de poda de árvores. Segundo o executivo, o acordo ampliou os tipos de cortes previstos e incluiu, pela primeira vez, um sistema de gestão virtual do serviço um banco de dados dos cortes em árvores já feitos -até então, as solicitações eram feitas por meio de ofícios de papel.
Em nota, a gestão Nunes disse que o tempo médio de atendimento de pedidos de poda é de 67 dias e que equipes de poda atuam diariamente na cidade de São Paulo. Foram feitas adequações em mais de 152 mil árvores e 10.682 remoções de exemplares condenados, segundo a administração.
A disputa entre a gestão municipal e a Enel sobre a crise de falta de energia na capital paulista desde a última sexta fez Nunes subir o tom no fim da tarde desta segunda. O prefeito disse em uma rede social que irá acionar a concessionária no Procon porque não cumpriu com a obrigação de restabelecer a energia em 100% dos endereços até esta terça.
Ele também acusou a empresa de mentir sobre a demora da administração municipal em remover as árvores caídas durante o temporal. "É irresponsabilidade da Enel dizer que a prefeitura não está removendo as árvores caídas. Tenho uma lista de 30 árvores, nesse momento, que a prefeitura não pode retirar porque a ENEL não vai fazer o desligamento da energia. Nossos funcionários não podem correr risco de serem eletrocutados", escreveu ele.
A síndica Viviane Cordeiro espera desde 2015 a gestão municipal atender seu pedido de poda de três árvores localizadas na calçada em frente ao prédio onde mora, na Vila Andrade, zona oeste da capital. "As raízes cresceram tanto que levantaram o piso da calçada e os pedestres precisam desviar pela rua", diz. "Não posso consertar a calçada enquanto não houver a retirada das árvores."
Procurada, a Secretaria Municipal das Subprefeituras informou que foi realizada a poda das árvores.
Em um prédio vizinho, a síndica Maristella Pagotto conta que 20 árvores foram derrubadas dentro do condomínio durante a ventania da última sexta. Uma delas, inclusive, tinha pedido de poda registrado na prefeitura há mais de três meses. "Moramos em um condomínio parque e muitas caíram sobre os carros estacionados na garagem", diz a síndica.
Sobre o caso, a prefeitura disse que a solicitação está em aberto e tem prazo para ser concluída até a próxima segunda-feira (13). A gestão afirmou que esteve no endereço e não constatou quedas de árvores, mas a moradora enviou vídeos de máquinas removendo troncos e galhos quebrados de dentro do condomínio.
Situação semelhante é relatada por uma comerciante de Moema, na zona oeste, que não quis se identificar. Segundo ela, a árvore que caiu na rua Canário durante a tempestade de sexta tinha protocolo de pedido de avaliação desde 2015.
Os galhos caíram sobre o telhado de uma loja de grife feminina e trouxe a fiação elétrica abaixo, o que deixou os vizinhos sem fornecimento de energia até o início da tarde de domingo (5). De acordo com a administração municipal, uma poda de limpeza havia sido feita na árvore em março deste ano.
Dona de uma sorveteria afetada pela queda da árvore, a empresária Leila Pega disse que viu o momento em que o tronco se rompeu com o vento forte. "A loja estava cheia de clientes com crianças. Foi um desespero total", disse.
Diante da falta de luz prolongada por mais de 48 anos, ela conta que perdeu todo o mostruário de sorvetes artesanais, além de ter deixado a loja fechada no sábado e no domingo, quando há maior movimento. "O prejuízo é enorme", disse enquanto esperava o conserto do gerador da loja que queimou com a instabilidade no fornecimento de energia.
Diante da pressão pela crise de falta de energia na cidade, o prefeito afirmou na segunda-feira (6) estar impedido de "aprimorar as regras de substituição das árvores da cidade" por uma decisão judicial de abril deste ano.
Nunes se referiu a uma ação movida pelo Ministério Público que, segundo ele, impede a prefeitura de implantar uma série de novas regras de manejo arbóreo na capital paulista. De acordo com a administração, a lei municipal a ser atualizada determina que a substituição e a poda em situação de urgência poderão ser executadas por terceirizados da prefeitura, Corpo de Bombeiros e integrantes da Defesa Civil.
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