SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O casal líbio-brasileiro Ahmed Hasan e Malak Hasan foi preso nesta quinta-feira (30) na Turquia, por suspeita de tráfico de cocaína. A defesa dos dois sustenta que eles foram vítimas de troca de etiquetas de bagagens no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo.

Segundo a advogada brasileira Luna Provázio, que defende o casal no Brasil, a prisão foi decretada durante julgamento no Tribunal Criminal da Turquia.

Os advogados do casal vão recorrer da decisão.

O empresário estava há cerca de seis meses sem poder sair da Turquia aguardando o julgamento por tráfico internacional de drogas.

Malak, que estava no Líbano, chegou a Istambul nesta quinta para participar da audiência na Justiça. Segundo a advogada, ela disse acreditar que o processo seria encerrado.

A defensora do casal no Brasil afirma que eles foram vítimas da mesma quadrilha que trocou as etiquetas das malas das brasileiras Kátyna Baía, 44, e Jeanne Paolini, 40, que passaram mais de um mês presas na Alemanha, acusadas do mesmo crime.

"Mesmo com eles cooperando com a investigação desde o início, infelizmente a juíza agiu de forma injusta e absurda, encaminhando o casal para o sistema carcerário", afirmou Provázio.

Ahmed e Malak são da Líbia, mas têm nacionalidade brasileira, porque os dois filhos -de 1 e 2 anos- nasceram no Brasil, e ainda são cidadãos turcos por causa das empresas que têm naquele país.

Eles moravam no Brasil, mas decidiram voltar a viver na Líbia, país no norte da África. Em 22 de outubro de 2022, Ahmed e Malak partiram de Guarulhos, onde despacharam diversas bagagens, em um voo da Turkish Arline. A família desceu em Istambul e ficou alguns dias na Turquia, onde Ahmed tem uma empresa, antes de chegar à Líbia.

O empresário passou seis meses na Líbia sem nenhum problema. Mas, em 19 de maio deste ano, foi à Turquia para tratar de seus negócios. Ao chegar no aeroporto de Istambul ficou um dia detido sem saber o que estava acontecendo.

No dia seguinte, ele conseguiu contato com uma advogada e soube que estava sendo acusado de tráfico internacional de drogas. O empresário foi proibido de sair do país.

"Ele entrou em desespero. É um empresário com dezenas de empresas e milhares de funcionários. Tem empresa na Turquia, na Líbia, nos Estados Unidos, na Europa. Ele tem muito dinheiro, jamais se envolveria com uma situação dessas", disse a advogada Provázio à Folha, no mês passado.

As duas malas, com 43 kg de cocaína, saíram de Guarulhos no dia 26 de outubro, ou seja, quatro dias após ambos deixarem o Brasil. As etiquetas da bagagem estavam em nome da mulher do empresário.

As malas com as drogas foram descobertas porque ficaram na esteira do aeroporto de Istambul e ninguém apareceu para retirá-las.

"Eles foram até a entrada do avião levando um carrinho de bebê que desmonta em três. Lá, o carrinho recebeu três etiquetas, uma para cada peça, informando o peso total de 5 kg. Quando pegaram o carrinho na Turquia só tinha uma etiqueta. Algum funcionário que faz parte da quadrilha pegou as outras duas etiquetas para usar depois", afirmou Provázio.

"Houve falha de segurança do aeroporto e da companhia aérea Turkish. De acordo com o Código Brasileiro Aeronáutico, uma bagagem não pode viajar sem passageiro. É uma questão de segurança. Pode ter um explosivo, por exemplo", disse ela.

O empresário acabou detido por ser considerado cúmplice da esposa. "A senhora Malak foi à Turquia participar da audiência por livre e espontânea vontade", disse a defesa nesta quinta.

Segundo a advogada, a Justiça turca justificou a prisão do casal pelo fato de os dois serem estrangeiros e, por isso, há o risco de fugirem da Turquia, e por serem acusados de tráfico internacional de 43 kg de cocaína (mesma quantidade colocada pela quadrilha no crime que ocorreu na Alemanha). "Os argumentos são totalmente infundados", afirma Provázio.

"Os passageiros são inocentes e não tem nenhum envolvimento com o crime, conforme relatório emitido pela Polícia Federal após ampla investigação."

A advogada disse estar pedindo suporte aos ministérios da Justiça e de Relações Exteriores, para a Polícia Federal, Interpol e Ministério Publico Federal.

Em outubro, a Polícia Federal disse que as autoridades turcas pediram informações sobre Malak em 10 de julho passado, mas as imagens não estavam mais disponíveis devido ao tempo decorrido.

Contudo, disse a PF, descobriu-se que algumas das etiquetas impressas para as malas despachadas por Malak foram retiradas de suas bagagens e reutilizadas nas malas com droga no voo de 26 de outubro de 2022, culminando com a apreensão dos 43 kg de cocaína em malas com o seu nome na etiqueta.

Ainda segundo a PF, só foi possível a obtenção das imagens da aeronave que realizou o voo Guarulhos-Istambul de 26 de outubro de 2022, ocasião em que foi possível verificar uma possível movimentação suspeita de um ônibus.

"Suspeita-se que a droga tenha adentrado à área restrita por meio desse ônibus, contudo, devido a baixa qualidade das imagens e o alto número de 'pontos cegos', não é possível comprovar essa suspeita", diz a PF.

"Portanto, segundo levantamentos desta Delegacia Especial no Aeroporto Internacional de São Paulo, não há indicativos de que Malak tenha tido participação no tráfico internacional de drogas, mas sim que suas etiquetas foram reutilizadas quatro dias depois para o envio da cocaína", afirmou a PF em nota.

A GRU Airport, concessionária que administra o aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, respondeu que o manuseio das bagagens, desde o momento do check-in até a aeronave, é de responsabilidade das empresas aéreas.

Procurada em outubro, a companhia aérea afirmou que estava checando as informações.


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