SÃO PAULO, SP (FOLHA´RESS) - Para chegar ao trabalho todos os dias, o pedreiro Gilson Portela, 39, demora mais de uma hora para percorrer o trajeto de sete quilômetros entre sua casa, no centro de Barueri, na Grande São Paulo, e o shopping Tamboré.
A lentidão é causada por obras na pista da rodovia Castello Branco entre os quilômetros 23 e 26, na altura da entrada para Alphaville. "O trânsito sempre foi puxado por aqui, mas piorou bastante", diz.
A mesma sensação de enfrentar um caos diário no trânsito é relatada por motoristas e passageiros de ônibus que passam por vias afetadas por obras viárias que se arrastam há meses, como a avenida Santo Amaro e a estrada do Alvarenga (ambas na na zona sul), além da marginal Tietê, na altura da ponte das Bandeiras.
Na avenida Santo Amaro, devido às obras que se estendem desde julho de 2022, o trânsito se transformou em teste para paciência porque apenas uma pista está liberada para o tráfego no sentido avenida Bandeirantes. Como a avenida é dotada de corredor de ônibus, nos horários de pico, é formada uma fila de coletivos que chegam a demorar mais de uma hora para transpor o trecho em obras de 1,5 km.
Em novembro, a cidade teve a maior média de lentidão para o mês desde o período pré-pandemia. Segundo dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), São Paulo teve, em média, 21,5% mais trânsito entre janeiro e novembro deste ano em comparação com o mesmo período em 2022 --285 km contra 346 km. Procurado, o órgão afirmou que não é possível medir o impacto de cada obra no trânsito.
"Eu já cheguei a descer do ônibus e ir a pé", disse a estudante Ana Clara Garcia, 20, que estuda em uma universidade localizada na avenida Santo Amaro e usa o corredor de ônibus todos os dias. "O motorista até desligou o motor e avisou que ia ficar parado no trânsito", conta ela que mudou o trajeto e incluiu mais 40 minutos no trajeto para acessar a universidade por outro caminho.
As obras têm impacto também no comércio da avenida Santo Amaro. Há vários imóveis fechados, com placas de aluga-se ou vende-se. Os empresários que mantêm as portas abertas calculam seus prejuízos e vivem inseguros diante da lentidão no ritmo das obras.
Há 45 anos, Paulo Francisco Gonçalves, 62, é dono de uma ampla casa que aluga pistas de autoramas para diversão e competição e também vende miniaturas e peças, a Paralolo Automodelismo. "Isto é o que fiz a vida inteira e, nesta altura, fico desnorteado sobre o que vou fazer. A prefeitura sequer oferece isenção de IPTU. De um ano para cá, o meu movimento caiu entre 70% e 80%", afirma.
Para os empresários, os principais empecilhos são o trânsito caótico na avenida e a falta de opções de estacionamento. "Não tem onde o cliente parar. Eu quebrei o fêmur em junho e, para vir trabalhar, não conseguia estacionar para desembarcar nem com andador. A CET multa, os motoristas buzinam", relata Gonçalves.
Lana Ramos Vicente, gerente de um centro automotivo que fica na rua, estima que o movimento de clientes caiu pela metade. Ela também relata a dificuldade em solicitar serviços de aplicativos e receber entregas de peças, por exemplo. "O problema é tanto para vir como para chegar, só vem quem é obrigado mesmo. Recebemos somente aqueles clientes fiéis, os novos não virão nesse transtorno. Até Uber, aplicativos de entregas, recusam as chamadas", reclama a gerente.
Os comerciantes integram um grupo de WhatsApp administrado pela prefeitura onde recebem informações sobre o andamento da obra.
As obras na avenida têm previsão de serem entregues até abril de 2024, seis meses antes do primeiro turno para a eleição municipal. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) irá tentar a reeleição.
Segundo a gestão Nunes, as intervenções na região irão promover "uma grande transformação na avenida Santo Amaro tornando-a mais moderna, acessível, funcional e segura para a população".
Em nota, a CET disse que monitora os impactos das obras na avenida e que, desde 18 de novembro, quatro linhas de ônibus foram desviadas para melhorar a circulação.
Na estrada do Alvarenga, no bairro de Pedreira, a obra de saneamento interditou parte da via e passageiros relatam espera de até 40 minutos pelos ônibus nos horários de pico.
No caso da Castello Branco, as obras causam lentidões diárias ao longo de até oito quilômetros, reflexo do desvio criado no km 22, segundo Daniel Daniluz, gerente de operação da CCR Via Oeste. "O desvio foi fruto de simulações de tráfego em software específico. Essa foi a melhor condição pensando em todos os viários do entorno", diz. O desvio ficará ativo ao menos até junho do ano que vem.
O principal gargalo no trânsito nesse ponto da rodovia, segundo o gerente de operações, é a confluência entre o tráfego local, de quem mora e trabalha em Barueri e precisa atravessar o rio Tietê, e os veículos que vêm e vão para o interior do estado. O tráfego urbano representa 30% do movimento na Castello Branco naquele trecho.
Por isso, segundo o gerente de operações, houve a necessidade de construir duas novas pontes paralelas às já existentes e remodelar os trevos de Alphaville e Barueri. Haverá também remodelação das alças de acesso e ampliação das marginais. "O viário não comporta mais a demanda do tráfego que cresceu muito nos últimos 15 anos", diz.
A previsão de entrega das obras na rodovia é para março de 2025, apesar de algumas conclusões estarem previstas nos próximos meses, como a faixa adicional no quilômetro 23, prevista para o próximo dia 20. "É impossível fazer uma obra com tantas transformações sem gerar o impacto momentâneo", diz o gerente da CCR Via Oeste.
Os impactos no trânsito têm feito a motorista de aplicativo Claudia Camaroto, 52, evitar a região da Castello Branco para trabalhar. "Já era ruim e agora está um horror", diz. "Moro em Osasco e a viagem até aqui demorou uma hora e meia", diz ela sobre o trajeto de 19 quilômetros até o acesso a Alphaville.
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