SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma semana após a suspensão das operações aéreas com o Boeing 737 Max 9 pela Anac (Agência Nacional de Viação), passageiros da Copa Airlines, a única companhia aérea que opera com o modelo no Brasil, enfrentam transtornos para o retorno ao país.
O modelo foi suspenso após um incidente em voo da Alaska Airlines nos EUA. Um painel do avião se abriu em pleno ar na sexta-feira (5), obrigando o piloto a fazer um pouso de emergência. Ninguém dos 171 passageiros e 6 tripulantes a bordo se feriu.
De férias na Colômbia, três amigas brasileiras que tinham voo de volta marcado para a próxima terça (16), com destino ao aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, enfrentam dificuldades para voltar ao país. Na tarde do sábado (13), quando estavam em praia em Cartagena, foram surpreendidas com o aviso de cancelamento do voo.
Na mensagem enviada por e-mail, a Copa Airlines dizia que a decisão é baseada na suspensão temporária de 21 aeronaves para uma inspeção técnica preventiva determinada agência americana de aviação (FAA), que está sendo seguida pela Anac.
No comunicado, a companhia pede desculpas por qualquer inconveniente, mas não informa o que os passageiros deveriam fazer.
"A gente começou a ligar para a Copa, meia hora, uma hora de espera, ficamos até a gravação até cair e não conseguimos nenhuma orientação. O sentimento de não saber o que vai acontecer, de não ter resposta, é horrível", afirma a educadora Luana Tolentino, 39.
A professora Aline Arruda, 45, diz que esse vácuo de informações, sem opção de remarcação de voo, deixou as três amigas inseguras. "Estávamos na praia, descansando, quando vi o email. Começamos a ligar na mesma hora para Copa e não conseguimos ter êxito nenhum. À noite, na pousada, foi a mesma coisa."
"Não sabemos se vamos ser reacomodadas, se vamos ter que comprar outra passagem e se seremos reembolsadas. A gente sabe se tiver que comprar em cima da hora vai ter que pagar uma pequena fortuna", acrescenta Luana.
No final da manhã deste domingo (14), ainda sem ter informações, as três foram até o aeroporto de Cartagena tentar falar pessoalmente com algum representante da Copa. Cerca de 60 pessoas com malas aguardavam em uma fila, tentando remarcações de voos cancelados.
"Perdemos um dia de passeio, horas de sono. Dá uma angústia por não sabermos o que vai acontecer. Temos que voltar para casa, pessoas nos esperando e não sabemos se vamos chegar em casa no dia em que programamos", diz Aline
A mesma angústia é compartilhada pela amiga Claudia Maia, 43, também professora. "Temos compromissos em Belo Horizonte, trabalhos nos esperando, e a gente aqui nessa indefinição, nessa incerteza", afirma.
Após a Folha contatar a companhia, as três receberam mensagens da Copa informando que havia opção de mudança de voo e que elas seriam reacomodadas.
No entanto, nas redes sociais da companhia aérea, dezenas de pessoas reclamavam sobre a demora na solução para os voos cancelados.
"Tenho reservas de resort e compromissos inadiáveis no dia 31.jan e 1º.fev. Se esperarem dois dias antes para me avisarem que vão cancelar, o prejuízo será sem recuperação. Avisem logo os clientes qual o plano. Já fiquei 1h na linha", reclamava Bianca, na tarde deste domingo (14).
Em nota enviada à Folha, a Copa Airlines disse que o cancelamento do voo se deu porque a suspensão das operações de 21 aeronaves Boeing 737 MAX9 continua em vigor.
"Infelizmente, é uma situação fora de controle e estamos fazendo o melhor possível para reacomodar os passageiros afetados em outros voos onde houver espaço disponível."
Segundo a companhia aérea, além de buscar opções de reacomodação para levar os passageiros a seus destinos o mais rápido possível, a empresa também está oferecendo hotel, transporte e alimentação para todos os passageiros que precisarem.
Também estão sendo ofertadas alterações de data para aqueles que decidirem mudar seus planos de viagem sem nenhum custo e reembolsos para aqueles que decidirem não viajar, segundo a Copa.
Questionada sobre o número de voos afetados e de pessoas afetadas pela suspensão, a Copa diz que as informações mudam constantemente, mas que a maioria dos clientes impactados recebe uma opção de remarcação para continuar sua viagem, "na maioria dos casos dentro de 24 horas".
A Copa Airlines se junta a outras companhias aéreas ao redor do mundo, principalmente nos Estados Unidos, que suspenderam o uso de aviões do modelo 737 Max 9 da Boeing após a agência americana do setor aéreo ordenar novas inspeções em aeronaves do tipo. A medida que provocou inúmeros cancelamentos de voo.
Nos últimos anos, a fabricante americana tem passado por intenso escrutínio em meio a problemas na produção e de atrasos na entrega de aviões.
A Boeing também ainda sente as repercussões de dois acidentes fatais do 737 Max há quase cinco anos, que abalaram a confiança na empresa. Em outubro de 2018, um modelo da aeronave comprado pela Lion Air caiu na Indonésia, sem causa aparente. Cinco meses depois, outro 737 Max, agora operado pela Ethiopian Airline, caiu na Etiópia. Os acidentes mataram 346 pessoas.
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