SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O velório de Luciana Marley Rodzewics Santos, 46, e da filha dela, Letícia Ayumi Rodzewics Sakumoto, 20, ocorreu neste domingo (14) no Cemitério Memorial Parque Jaraguá. Dezenas de amigos e parentes usavam camisetas brancas com fotos das duas vítimas estampadas, e o clima foi de consternação.

Elas e outras duas pessoas morreram na queda de um helicóptero quando iam de São Paulo para o litoral paulista. Foram 11 dias até que os destroços da aeronave fossem encontrados. A família disse que não pretende acompanhar a investigação.

"Foram os piores dias da nossa vida. A gente não se alimentava, não trabalhava, não dormia direito, tudo à base de remédio", disse Sidney Santos, pai de Luciana e avô de Letícia.

Apesar da tristeza, ele disse que agora o momento é de alívio. "Agora é um momento que a gente fica um pouco mais aliviado, porque nós encontramos. O importante era encontrá-las, porque aquela incerteza estava deixando a gente angustiado. Agora, como apareceram os corpos, a gente ta rezando e pedindo a Deus que ilumine e guarde elas para a vida eterna", declarou.

Questionado sobre a investigação das causas do acidente, que culminou na morte dos quatro ocupantes da aeronave, Santos disse que a família não vai acompanhar. "Como o Raphael [Torres] era amigo da família e elas eram maiores de idade, a gente não vai atrás dessa investigação. A gente vai começar a finalizar por aqui", afirmou.

Uma mulher que se apresentou como amiga da família, mas preferiu não se identificar, disse que é muito difícil acreditar no que aconteceu com as duas. Ainda mais depois de tantos dias de busca e esperança.

Silvia Santos, irmã e tia das vítimas, assim como Neusa Santos, mãe e avó, eram amparadas por amigos durante o velório.

"Eu tenho de agradecer todas as orações. Pessoas que pararam o tempo delas, pensamento positivo, fizeram tudo por mim e pela minha família. Então, eu sou grata", disse Silvia.

"É o pior momento. Momento do adeus. Na realidade elas perderam a vida dia 31 [de dezembro] e hoje a gente vai dar um sepultamento digno para elas", finalizou.

O velório começou por volta das 11h30 e o sepultamento aconteceu às 16h.

Os corpos das quatro vítimas chegaram no sábado (13) à tarde ao IML (Instituto Médico Legal) de São José dos Campos, onde foram realizados os exames necroscópicos para determinar a causa das mortes. O laudo deve ficar pronto em 30 dias.

Após os procedimentos, eles foram trazidos para São Paulo e liberados para as famílias.

A família do empresário Raphael Torres não respondeu aos contatos. A advogada que representa os parentes do piloto Cassiano Tete Teodoro, Thais Gianlorenço, disse que a família não iria divulgar informações porque deseja privacidade na cerimônia de despedida.

Os destroços da aeronave foram encontrados na manhã de sexta-feira (12), por volta das 9h15, em área de mata densa, em Paraibuna, no Vale do Paraíba. Os militares precisaram descer de rapel do helicóptero para acessar o ponto da queda e os destroços da aeronave.

O helicóptero desapareceu no dia 31 de dezembro após sair de São Paulo em direção a Ilhabela, no litoral norte, e enfrentar uma densa neblina na altura da Serra do Mar.

A busca pela aeronave durou 11 dias e mobilizou a Polícia Militar, a FAB (Força Aérea Brasileira), o Exército e a Polícia Civil, além de equipes de buscas particulares contratadas pelas famílias das vítimas.

SEM VISIBILIDADE NO VOO

As autoridades investigam se os passageiros eram conduzidos por um serviço irregular de táxi aéreo. O piloto Cassiano Teodoro teve sua licença e todas as habilitações cassadas pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) em setembro de 2021, por transporte aéreo clandestino, fraudes em planos de voo e por fugir de uma fiscalização.

Ele obteve uma nova licença em outubro do ano passado, após ficar afastado pelo prazo máximo de dois anos, mas, segundo a Anac, ainda não estava habilitado a realizar voos com passageiros.

Em áudios da conversa entre Cassiano Teodoro e Jorge Maroum, dono do heliponto onde o helicóptero deveria ter pousado em Ilhabela, o piloto se queixou da falta de visibilidade na serra do Mar causadas pelas condições meteorológicas adversas.

"Eu estou na fazendinha, mas não estou conseguindo cruzar, tá tudo fechado, tá colado [quando a camada de nuvem está 'colada' ao chão, impedindo visão horizontal e vertical]", relatou o piloto.

Segundo Maroum, fazendinha é como os pilotos costumam chamar uma parte mais baixa da Serra do Mar, antes da chegada a Caraguatatuba. Para Maroum, cercado pela neblina o piloto pode ter tido uma "desorientação espacial". "Como se estivesse num labirinto", disse.


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