RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O advogado Bruno Castro, que representa o ex-policial militar Ronnie Lessa, afirmou que seu cliente tinha preocupações com a família caso viesse a falar sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Preso por ter matado a parlamentar, o ex-PM firmou um acordo de delação para apontar o mandante do crime. A colaboração ainda não foi homologada pelo STJ (Superior Tribunal Federal), onde o caso corre em sigilo.
À reportagem Castro disse que Lessa nunca demonstrou interesse em firmar uma colaboração premiada. No entanto, ele disse que sabia quem era responsável pela morte de Marielle, mas que, se falasse, sua família ficaria em perigo.
"A única coisa que ele me disse, há uns dois ou três anos, é que ele sabia quem tinha matado a Marielle. Mas afirmou que, se falasse, a família dele morreria", disse o advogado. "Acho que ele nunca comentou [sobre o interesse de fazer a delação] por saber que meu escritório não faz esse tipo de acordo."
O advogado de Lessa afirmou que prefere ainda não confirmar que houve a delação de seu cliente, pois ele próprio não foi informado oficialmente. No entanto, já antecipou que deve deixar o caso por não concordar com esse tipo de instrumento jurídico.
"Por ideologia jurídica não atuamos para delatores", disse.
Castro também disse que a família de Lessa também não foi informada sobre acordo de delação.
Lessa está preso desde março de 2019 e passou a negociar uma colaboração premiada no fim do ano passado. O caso está no STJ (Superior Tribunal Federal), e a delação ainda não foi homologada. Para isso, é preciso que os investigadores comprovem o que foi dito pelo ex-PM no acordo.
Até firmar a delação, negociada no final de 2023, Lessa nunca tinha admitido sua participação no crime.
Marielle e Anderson foram mortos em 14 de março de 2018 ao terem o carro atingido por tiros enquanto passavam pelo Estácio, bairro do centro do Rio de Janeiro. Junto com Lessa, também foi preso o ex-PM Élcio de Queiroz, apontado como o motorista do veículo utilizado no crime.
Lessa está no presídio federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Castro afirmou que ainda não teve contato com o ex-PM desde que veio à tona que ele está colaborando com as investigações. Por ele estar em uma penitenciária de segurança máxima, as comunicações com o preso devem ser solicitadas à direção do presídio e há um prazo para que elas sejam deferidas. O advogado afirmou que ainda não fez o pedido.
"Acredito que ele tenha mais a explicar à família do que ao advogado", afirmou Castro.
A preocupação com a família também foi uma questão para Élcio de Queiroz quando firmou sua colaboração, no ano passado. Uma das contrapartidas pedidas por ele foi que seus parentes passassem a ter uma segurança reforçada.
Queiroz também foi transferido de presídio após a colaboração. Ele estava no presídio federal em Brasília e foi para o Complexo Penitenciário da Papuda, também no Distrito Federal.
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